História(s) no Imaginauta

No género cultural (não apenas literário…) da Ficção Científica e do Fantástico – e não só neste, evidentemente, mas especialmente neste – é sempre útil e justificado proceder-se com alguma (elevada) regularidade a retrospectivas, a resenhas históricas, a «revisões da matéria dada», exercícios de memória de forma a que certos autores e as suas obras, que habitualmente não gozam da atenção e dos favores de editores, da comunicação social (tanto generalista como especializada) em geral e de «críticos» em particular, e até de leitores, não caiam no esquecimento ou, meramente, tenham mais hipóteses de evitar aquele, o que é sempre mais provável num país como Portugal, que se tem revelado tradicionalmente avesso à expressão artística mais importante e aos seus intérpretes. Neste âmbito, uma das intervenções mais recentes, e quiçá a mais recente, foi feita por Carlos Eduardo Silva no sítio Imaginauta sob o título «Apontamentos para uma história recente da ficção especulativa portuguesa (1999-2022)». Porque o autor informou desde logo que «aceitam-se sugestões de correcção ou melhoria», decidi fazer isso mesmo…

… Em dois comentários que inseri, não unicamente em relação a projectos em que participei, quer a «solo» quer em «grupo». E as referências sucederam-se… No começo do século e do milénio, mais concretamente entre 2001 e 2003, na (entretanto falida) editora Hugin, António de Macedo dirigiu a colecção «Bibliotheca Phantastica», cujo objectivo era republicar autores «antigos» de FC & F – e livros de Teófilo Braga e de João da Rocha foram lançados – e ainda revelar autores «modernos» – e livros de Maria de Menezes, Luísa Marques da Silva, Pedro Lúcio, Sérgio Franclim e eu próprio (com «Visões», aliás a minha primeira obra publicada) foram lançados. Na Saída de Emergência, depois de «A Sombra Sobre Lisboa» (que não é de 2006 mas sim de 2007) e antes de «Os Anos da Pulp Fiction Portuguesa» (que não é de 2007 mas sim de 2011) e de «Lisboa no Ano 2000» (que não é de 2012 mas sim de 2013), foi publicada – em 2008, ano do centenário do Regicídio – «A República Nunca Existiu!», antologia colectiva de contos de história alternativa, por mim concebida e organizada, cujo tema, ou premissa, era um Portugal em que a Monarquia nunca havia sido derrubada; incluiu autores então mais (João Aguiar, Miguel Real) e menos conhecidos – como, por exemplo, Bruno Martins Soares, no que constituiu a sua estreia na SdE, e que proporcionaria o surgimento de «Alex 9». Na colecção 1001 Mundos da Gailivro, e antes de «Se Acordar Antes de Morrer» e «As Atribulações de Jacques Bonhomme» (ambos colectâneas de contos), foi publicado (o meu primeiro romance) «Espíritos das Luzes». O colóquio «Mensageiros das Estrelas» foi também o local e a ocasião para a primeira apresentação, em 2012, na segunda edição daquele, de uma antologia colectiva de contos de FC & F com a mesma designação, também por mim concebida e organizada, e em que participaram autores como António de Macedo, João Seixas, José António Barreiros e Luís Filipe Silva. Mais recentemente, em 2019, teve lugar no Porto o I Encontro Internacional de História Alternativa «E Se?..»; o segundo e o terceiro ocorreram em 2020 e em 2021 num formato predominantemente virtual (devido, claro, às restrições da pandemia), mas o quarto, neste ano de 2022, deverá retomar o formato presencial. É uma iniciativa liderada por AMP Rodriguez no contexto do colectivo Invicta Imaginária, do qual também resultou o projecto «Winepunk», colectânea de contos que constitui uma abordagem alternativa à (verídica) «Monarquia do Norte» de há um século. Enfim, as três últimas sugestões… Primeira, uma prévia panorâmica da ficção especulativa portuguesa escrita por Luís Filipe Silva e publicada em 2017 na revista Locus. Segunda, as reedições, na Saída de Emergência, de duas obras portuguesas fundamentais do género, uma escrita por LFS e outra por ele co-escrita (com João Barreiros), respectivamente «A Galxmente» e «Terrarium». Terceira, o surgimento recente de mais uma editora especializada, a Fábrica do Terror, que apresentou um dos seus livros, a antologia «Sangue Novo», na edição deste ano do FantasPorto; um festival que, aliás, sempre teve espaço para a ficção especulativa portuguesa, principal e obviamente ao nível do cinema, tanto em longas como em curtas-metragens, mas também aos níveis da literatura e das artes plásticas; e Beatriz Pacheco Pereira, co-fundadora e co-organizadora do evento, é também uma escritora de talento que integra e honra as nossas fileiras.

É de louvar esta iniciativa de Carlos Eduardo Silva, e espera-se que outras como esta venham a acontecer. Porque a «ImagiNação» portuguesa pode ser pequena mas tem grande valor.