Opiniões Março 2024 (PT/ENG)

Um dedo borrado de tinta – Histórias de quem não pôde aprender a ler – Catarina Gomes

Sinopse: Casteleiro, no distrito da Guarda, é uma das freguesias nacionais com maior taxa de analfabetismo. Este livro retrata a vida e o quotidiano de habitantes desta aldeia que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever.

É o caso de Horácio: sabe como se chama cada uma das letras do alfabeto, até é capaz de as escrever uma a uma, mas, na sua cabeça, elas estão como que desligadas; quando recebe uma carta tem de «ir à Beatriz», funcionária do posto dos correios e juntadora de letras. Na sua ronda, o carteiro Rui nunca se pode esquecer da almofada de tinta, para os que só conseguem «assinar» com o indicador direito.

Em Portugal, onde, em 2021, persistiam 3,1% de analfabetos, estas histórias são quase arqueologia social, testemunhos de um mundo prestes a desaparecer.

Opinião: É incrível que em 2021 ainda se tenha registado 3,1% de analfabetos em Portugal. No entanto em 2011 eram bastante mais, cerca de meio milhão de portugueses. Estes números dizem-nos duas coisas: Que efetivamente Portugal tem um índice de população envelhecida enorme e que no espaço de dez anos morreram muitos desses idosos. Este livro, um trabalho de investigação lindíssimo da Catarina Gomes (Autora de “Terrinhas” e “Coisas de Loucos”), remete-nos para outros tempos, outras vidas (estamos a falar de coisas de há 70/80 anos atrás não muito mais que isso), e toca-me a mim pessoalmente porque parte dos testemunhos dos entrevistados que tive oportunidade de ler são a história de vida da minha mãe, nascida em 1949. Logo muito nova, só conseguiu fazer a terceira classe e foi logo colocada a servir em casa de patrões, a cuidar de crianças. Sabe ler e escrever, mas por exemplo a minha falecida tia, sua irmã, com mais 10 anos, faleceu sem saber ler nem escrever. Esta é uma realidade, ainda presente em muitos locais do nosso país, onde a escola não era prioridade, mas sim o trabalho, a lavoura, o tentar fazer algum dinheiro para colocar pão na mesa. O cuidar da prole de irmãos. As mulheres sempre foram as mais fustigadas pela falta de escolaridade porque muito cedo tinham que assumir funções de irmãs, mães, tias, empregadas e sabe-se lá mais o quê. Os homens, eram colocados no campo, a cuidar do gado, das terras. Aprendi mais com este livro sobre um tema que me é muito familiar e que deve ser falado e assumido como existente. E não foi assim há tanto tempo… Recomendo muito, a quem quiser saber mais sobre o passado, não assim tão distante, da população portuguesa.

Os Outros De Alguém – Joana Subtil – Crisântemo/Guerra e Paz

Sinopse: Envelhecer não é uma escolha.

A partir de uma determinada altura das nossas vidas, perdemos independência e ficamos entregues a uma sociedade que pode não estar à altura de nos acolher. No entanto, Joana Subtil, directora do lar Belmonte, acredita que pode existir uma resposta mais humanizada e empática por parte de todos: não só das instituições, mas também das próprias famílias e cuidadores informais.

Através de um testemunho muito pessoal, que passa pela dificílima época da covid-19, a autora explica-nos como os lares são geridos e como as famílias reagem à velhice, fala-nos da sexualidade na terceira idade e da importância da individualidade. Também os conselhos práticos para as famílias, cuidadores e profissionais não ficam esquecidos e enriquecem cada capítulo deste livro.

Joana Subtil recorda-nos de algo imprescindível: «Os Outros de Alguém são daqueles e para aqueles que um dia serão os nossos! Esses Outros de Alguém que um dia seremos nós!»

Opinião: A idade é apenas um número. Envelhecer é um processo natural, o mais natural de toda a vida existente. No entanto envelhecer não significa perder a capacidade de amar, ser amado e ser feliz. Joana Subtil, com este seu livro repleto de amor, muito amor explica como existe ainda muito a melhorar nos cuidados aos mais velhos mas também ensina, doutrina o respeito máximo pelos que já passaram por aquilo que nós ainda lá havemos de chegar. No Japão por exemplo, os idosos são considerados figuras máximas de respeito, sábios e tratados com a maior da dignidade. Por cá as coisas infelizmente ainda estão a anos-luz de serem boas. Porque perfeitas nunca serão. Há que aceitar que envelhecer não é morrer, não é deixar de existir e muito menos um fardo. Há que promover a formação contínua a todos os envolvidos nos cuidados a idosos e também na relação com os respetivos familiares. Neste livro ficamos a saber que é tão fácil, tão simples, mas requer muito amor, muita paciência e uma grande carapaça para aguentar a adversidade e ser bem sucedido. Adorei cada pedacinho deste livro, cada história contada pela Joana, cada ensinamento que obtive pelas palavras dela. É sem dúvida dos livros mais pessoais e intimistas que li sobre Geriatria e sem dúvida um exemplo a seguir, que existissem mais Joanas e respetiva equipa. Dedico esta opinião aos meus pais, Jorge 72 anos e Rosa 74 anos que vivem comigo e que são a luz da minha vida. Já não tenho avós, mas também é para eles.

Nas minhas mãos, a morte – Anabela Lopes

Sinopse: «O pobre rapaz não compreendia o que se passava com ele, e o seu olhar de confusão dava-me uma tremenda vontade de rir; senti-me poderoso, invencível, intocável.»

Tomás nasceu no meio da lama e dos dejetos dos animais. Um triste prenúncio para os seus primeiros anos de vida: a violência de um pai alcoólico, a cobardia de uma mãe incapaz de o defender e a crueldade dos colegas de escola.

Certo dia, o jovem percebe que tem um poder. Num momento de extrema humilhação, deseja a vingança e alcança-a, usando apenas o poder da mente. É assustador, pois algo se revela dentro dele que parece incontrolável. Mas, com o tempo e a prática, esse dom permite-lhe começar a fazer coisas impensáveis. Vinga-se, faz justiça com as próprias mãos, sempre nas sombras… um poder tão discreto que ninguém sonha que foi ele quem matou o próprio pai.

Porém, uma carta há muito esperada vem trazer uma notícia que vira a vida de Tomás do avesso, e o seu maior segredo pode estar em risco. Não só o seu segredo, mas tudo aquilo em que ele acredita. Anabela Lopes oferece-nos uma viagem única pela vida misteriosa de Tomás, daqueles que ele amou e odiou profundamente, mas também daqueles que ele matou.

Opinião: Demorei bastante até poder escrever sobre este livro, que efetivamente li de uma só vez. Foi pegar e ler. Logo diriam vocês que adorei, que me deixou completamente satisfeita. Não foi o caso infelizmente. E está tudo bem. Estive para não escrever o que penso, mas acho que não é justo nem para mim como leitora nem para com a autora. Vou de forma mais simples, e de maneira a que entendam o que funcionou comigo e o que não funcionou, enumerar:

Pontos Positivos

– Uma Narrativa bem escrita, bem pensada, com um final inteligente. Nem todos irão entender.

– Não fazia ideia do “plot twist” logo fui surpreendida o que é ótimo. Desconfiava que algo não batia certo, mas não pensei que fosse tão “rebuscado”. Os meus parabéns, que foi mesmo muito gratificante ter sido “enganada”.

Pontos Negativos

– Não senti empatia pelas personagens. Não consegui ter ligação com nenhuma.

– Não considero este livro um Thriller, mas sim um Drama Familiar. Em última análise um Thriller Doméstico mas pode levar muitos leitores ao engano.

– Não gosto de violência “gratuita” para com outros seres vivos.

Que não existam dúvidas que a Anabela é uma excelente escritora e de facto o bom da literatura é que alguns livros funcionam melhor do que os outros, depende das perspetivas, depende das pessoas e suas personalidades e está tudo bem! Cabe é clarificar isso bem clarificado quando damos uma opinião sobre algo que lemos de forma a não lesar ninguém na sua experiência de leitura e respetivos autores.

A Profeta – Maria Francisca Gama

Sinopse: «Sei que, mais cedo ou mais tarde, todos saberão quem sou. Que estarão à minha procura, que falarão sobre mim, que viverão na tentativa inútil de se assemelhar à minha imagem. Teremos apenas de aguardar. Vocês e eu.»

Mariana é uma jovem mulher solitária. Tem um emprego do qual não gosta, passa os dias e as noites sozinha a ler um livro misterioso.

Sente um profundo desprezo pela Humanidade, mas não consegue evitar ajudar quem precisa, mesmo que a ajuda venha na forma de um frasquinho de veneno indetetável.

Através das pessoas com quem se vai cruzando, todas vítimas de alguém, Mariana vai eliminando o mal do mundo e, ao fazê-lo, junta uma legião que jura segui-la para sempre, como a uma profeta.

Neste livro, Maria Francisca Gama faz uma reflexão sobre a religião, o certo e o errado, e a aleatoriedade de acontecimentos que em segundos destroem uma vida. É a incapacidade de aceitação e a busca por uma justiça divina que, não chegando, é feita pelas próprias mãos.

Opinião: Justiça Divina. Quantas e quantas vezes em alturas especificas da minha vida pensei eu em levar a cabo a mesma? Uma justiça feita pelas próprias mãos, a favor de injustiçados (aos meus olhos) e de pobres de espírito. Este livro foi também uma lufada de ar fresco para a minha mente e para refletir profundamente sobre temáticas como a religião, consciência e moral associadas à vingança e injustiça ou à falta das mesmas. Mariana representa tudo aquilo que já uma ou outra vez na vida quisemos ser, ter coragem para fazer. Movimentando-se pela vida com agilidade e sapiência, Mariana entende que tem que ajudar a retirar o enorme fardo pesado da culpa e da vingança do coração de quem ela sente que a irá seguir. Não vou negar que não é uma leitura controversa. Não vou negar que para muitos possa tocar ali em pontos que doem, que fragilizam. Mas com uma narrativa nua, crua, fria e direta, Maria Francisca Gama consegue sem dúvida criar uma estória incrível, e não querendo ser mais papista que o Papa, deu-me a sensação que muitas das passagens já foram uma espécie de “ensaio” para o seu novo livro “A Cicatriz”. ADOREI. “O que a Maria Francisca Gama escrever, eu vou seguir. “

Trilogia de Isabel de Aragão – Maria Cristina Sousa – Intelectual

Rosas para Isabel

UM AMOR, UM SONHO UMA NAÇÃO

Isabel de Aragão cresceu na corte de seu avô, Jaime I, homem profundamente religioso que nos últimos anos de vida escolheu viver como um asceta. Isabel conviveu assiduamente com as ideias do filósofo Arnaldo de Vilanova e com as novas ideias difundidas por São Francisco de Assis que preconizavam a vivência religiosa profunda, uma vida mais simples voltada para o despojamento e para a prática da caridade.

Profundamente religiosa e piedosa, Isabel pensou na possibilidade de professar. Contudo sabia que, como princesa, esperava-a um casamento de estado com o rei de Portugal, Dom Dinis. Isabel partiu para o seu novo reino imbuída das ideias com as quais cresceu em Aragão.

Sabia que seu marido, Dom Dinis, era considerado o homem mais culto do seu tempo, para além de ser poeta e trovador, o que a fazia sentir apreensiva em relação ao seu futuro casamento com o jovem rei que pretendia transformar o Reino de Portugal no mais importante e respeitado reino da Península Ibérica.

As Trovas de um Rei

UM REI POETA, UMA RAINHA SANTA, UM REINADO ÚNICO

Isabel de Aragão, rainha de Portugal, acompanha e incentiva o grande sonho de Dom Dinis, de tornar Portugal no reino mais rico e mais próspero da Península Ibérica.

À medida que testemunha todas as capacidades governativas e visionárias do rei, assim como a sua vertente de sábio, poeta e artista, a admiração que sente por seu marido não conhece limites. Isabel lê e guarda no coração todas as trovas e cantigas que ele lhe dedica. Na corte, em Coimbra, em Santarém, em Lisboa e no idílico Paço de Monte Real, Dinis e Isabel levam uma vida de predestinados, entregando-se à tarefa para a qual foram fadados pelo Altíssimo. Juntos caminham para uma amálgama de sucesso ímpar no governo e na transformação e modernização do reino.

Contudo algumas nuvens negras surgem no horizonte que ameaçam perturbar o reino e a vida dos jovens soberanos que irão necessitar de toda a sua sabedoria e coragem para as superar.

Fogo Sagrado

Isabel e Dinis continuam a reinar com mestria e sabedoria no Reino de Portugal, que a superior inteligência política e diplomática do rei transformou no reino mais próspero da Península Ibérica.

Isabel consegue realizar um dos seus mais ardentes desejos; converter o rei às orientações espirituais de São Francisco de Assis e influenciá-lo para que entregue a uma religiosidade mais profunda.

Contudo, um acontecimento abalará inexoravelmente a felicidade do casal real e a estabilidade e a prosperidade do reino: Isabel e Dinis testemunham o ciúme doentio do seu herdeiro em relação a um dos seus irmãos, ao mesmo tempo que testemunham impotentes o resvalar do seu amado reino para a uma violenta guerra civil, que só Isabel, com a sua santa mediação, tudo fará para evitar que se transforme em tragédia.

Opinião: Decidi, tendo em conta que li os três livros de seguida e sendo uma trilogia contínua, dar a minha opinião aos três livros de uma só vez.

Para alguém que como eu não é apreciadora nem conhecedora de Romance Histórico, confesso que não poderia ter escolhido melhor para me convencer. De uma forma bonita, poética, até diria com muita ternura e apreço, a autora conta-nos a história (onde efetivamente a ficção se mistura com a realidade) do casamento e vida em comum de Isabel de Aragão e Dom Dinis, Reis de Portugal. Não sendo eu uma expert em história de Portugal (porque não sou, nunca me interessei muito além do que aprendi na escola), fiquei rendida aos pequenos detalhes, descrições, à forma como o que foi considerado o “Rei quase perfeito” de sempre a reinar em Portugal é retratado e como o amor de Isabel de Aragão foi fundamental para que isso acontecesse. Existem obviamente cenas mais lamechas, outras mais “picantes”, mas também todo o drama envolto nos vários filhos que Isabel de Aragão infelizmente perdeu. Dom Dinis teve vários filhos fora do casamento e Isabel de Aragão acolheu-os como se fossem dela, e após ter ido pesquisar a história (aqui já sem ficção) de como tudo isso aconteceu, é de louvar o bom coração desta Rainha. Rainha essa que foi considerada Santa (séculos mais tarde), por ser uma mulher muito devota e que ajudava sempre o próximo, caracterizando o que ainda é hoje conhecido como o “milagre das Rosas”. Eu adorei a escrita da autora, conseguiu convencer-me a pegar em mais Romance histórico que tenho cá em casa de autoras e autores Nacionais e só vos posso deixar aqui a minha recomendação, sem qualquer dúvida, não se arrependem e é sem dúvida uma excelente forma de relembrarmos os nossos antepassados e tudo aquilo que eles conquistaram e ultrapassaram. O Reinado de Dom Dinis e Isabel de Aragão foi dos mais prósperos e com níveis de desenvolvimento de Portugal até à data.

Uma Breve História da Pena de Morte – Helmut Ortner – Alma dos Livros

Sinopse: «ESTE LIVRO VAI FAZER-NOS PENSAR DURANTE MUITO TEMPO.» Frankfurter Rundschau22 de abril de 1846. Lagos. Dia da execução de José Joaquim Grande, um assassino condenado à pena máxima. Será esta a última sentença de morte concretizada no país. Vinte e um anos depois, a 1 de julho de 1867, Portugal tornar-se-ia a primeira nação europeia a abolir a pena de morte.A abolição da pena de morte é um avanço civilizacional e um marco no processo da proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. Nos dias de hoje, não se pratica na Europa. Mas o debate mantém-se entre os defensores desta medida e todos aqueles que se lhe opõem. As leis, os métodos de execução e a forma como se realizam mudaram. Mas terá também mudado a crença de que estamos a fazer algo «justo»?Uma Breve História da Pena de Morte descreve e documenta as múltiplas facetas da pena de morte, do carrasco romano à injeção letal nas cadeias a superstição, o temor de Deus, o poder do Estado, a fé na tecnologia, o espírito humanitário. Se tempos houve em que as execuções eram rituais sagrados e públicos — uma reconciliação entre a alma daquele que morria e Deus —, hoje chega a ser um ritual coletivo de punição e limpeza transmitido por meios de comunicação.Em todos os tempos e em quase todas as sociedades humanas, a aplicação da pena capital ocorreu sempre sob o conceito da legitimação do Estado — mesmo além dos campos de batalha. Mas, será legítimo o estado decidir a morte dos seus cidadãos? Afinal, quem pode decidir o fim da vida?

Opinião: Um livro de não ficção que eu considero IMPERATIVO a sua leitura. É sem dúvida um livro que é todo ele escrito para ficar nas nossas cabeças durante muito tempo e refletirmos como seres humanos o que é ser efetivamente humano e/ou “humanizar”. Não vou dar a minha opinião pessoal acerca da pena de Morte, não julgo ser esse o propósito ao escrever esta opinião. O que podem então encontrar ao abrirem este livro? Dividido por partes, começamos com uma breve introdução genérica da Pena de Morte e sua aplicação ao longo dos séculos. Após isso, somos conduzidos pelas várias etapas e instrumentos, de forma histórica e detalhada (sejam seres vivos ou objetos) que são e foram necessários para a aplicação da Pena de Morte e acima de tudo o porquê, a necessidade de castigar através da Morte/Suicídio Assistido (também conhecida como purificação) quem praticava determinados crimes. Reparem, hoje em dia a pena de morte é um “negócio” que gera milhões de verbas, verbas essas que financiam negócios de origem duvidosa e sempre para o mal. Se antigamente, se punia de forma arcaica mas a evolução ainda tinha que existir, que razão ainda temos em pleno século XXI para aplicar tal pena? Quem somos nós comuns mortais para decidir quem morre e quem vive, mesmo em âmbito de crime? E de que forma o fazemos? Onde ficam os direitos Humanos?

Recomendo bastante este livro, foi muito elucidativo, importante para adquirir conhecimento ainda mais) sobre uma temática pela qual tenho bastante interesse e que assumo seja do interesse da Humanidade em geral. Ou deveria ser. Reflitam. Leiam.

Sobreviver a esta noite – Riley Sager – Guerra e Paz

Sinopse: Estamos em Novembro de 1991. «Come as You Are» toca no auto-rádio, George H. W. Bush está na Casa Branca e a universitária Charlie, obcecada por filmes, partilha uma longa viagem até ao Ohio com Josh. Conheceram-se no quadro de boleias da universidade e ambos têm boas razões para quererem ir embora a meio do semestre.

No desconfortável silêncio da noite, por uma auto-estrada deserta e sinuosa, partilham as suas histórias, evitando cuidadosamente o assunto que domina as notícias: o Assassino do Campus acaba de voltar a atacar e, desta vez, a vítima foi a melhor amiga de Charlie.

Com o passar do tempo, Charlie começa a achar que há algo suspeito no seu companheiro de viagem… Será ele perigoso? Poderá ela ser a próxima vítima? Ou será que a imaginação cinematográfica de Charlie lhe está a pregar partidas?

Uma coisa é certa: presa num aterrador jogo do gato e do rato que se desenrola em estradas escuras como breu e em parques de estacionamento iluminados a néon, Charlie sabe que para sair dali viva só precisa de fazer uma coisa: sobreviver a esta noite.

Opinião: Se não gostam de Thrillers Slow Burn então este livro não é para vocês. Eu confesso que não sou a maior apreciadora, gosto que os livros me mantenham interessada e cheia de nós no cérebro ao longo da narrativa, mas mesmo assim este livro cumpriu o seu propósito, o entreter. Como já referenciei, temos uma estória que vai progredindo muito lentamente e com detalhes aqui e acolá importantes para o desenrolar da trama. Mas é mesmo nos capítulos a partir de mais de metade do livro que tudo ganha um novo fôlego e que não nos arrependemos de não desistir da leitura. Que final alucinante, cheio de reviravoltas (a maior, eu previ e acertei, acho que era mais que óbvio) e gostei muito de viajar no tempo, até à minha adolescência a nível musical, e acima de tudo as referências cinematografias com as quais me identifiquei imediatamente (cresci a ver filmes antigos com o meu pai) e me deliciei a ler sobre as mesmas. Riley Sager é um grande autor, não hajam dúvidas e este Thriller foi mais focado na abordagem ao carácter das personagens do que propriamente à ação em si, e como tal recomendo a leitura do mesmo que não se arrependem.

The Mistress – Valerie Keogh – ARC Reading/Kindle

Sinopse: She wants what you have…

Hannah Parker is a woman who always gets what she wants.

When her current husband discovers she has been lying to him – again – she knows it’s time to move on and find someone who can give her the life she desires… The life she knows she deserves…

But who will be the lucky man?

When her eye catches a glimpse of an old flame in a photograph, she’s sure it’s a sign. Mark Shepherd has always been in her thoughts – they’d been happy once, he’d adored her, but she’d made a mistake and let him get away. She won’t make the same mistake again….

Hannah is older now and wiser. She knows what men want and she knows how to keep them happy.

So what if Mark is happily married with a family of his own?

All good things must come to an end…

Opinião: Que narrativa inteligente e cheia de reviravoltas! Quando temos alguém do nosso lado, mandamos embora… para depois voltarmos a querer… é basicamente no que se baseia este livro. Hannah é uma mulher que desde muito cedo tem noções erradas do que é um relacionamento e o que isso acarreta, indo sempre pela via mais fácil que tem, o Sexo. No entanto, e após um evento traumático com o seu atual marido, Hannah sente que precisa e quer mais e parte em busca de Mark, o Homem que abandonou ainda jovem. Mas Mark, agora casado, tem uma vida plena e como sempre a sua esposa não sabe a bomba que lhes vai cair no relacionamento… Gostei bastante, principalmente o final, que acho que foi mais que justo e adorei a escrita desta autora!

ENG Review: What a smart narrative full of plot twists ! When we have someone we love on our side, we send them away… and then we want them again… that’s basically what this book is based on. Hannah is a woman who, from a very early age, has the wrong notions of what a relationship is and what it entails, always taking the easiest way out, Sex. However, after a traumatic event with her current husband, Hannah feels that she needs and wants more and sets out in search of Mark, the man she abandoned at a young age. But Mark, now married, has a nice life and as always his wife doesn’t know the bomb that will drop on their relationship… I really liked this book, especially the ending, which I think was more than fair and I loved this author’s writing!

Inquieta – Susana Amaro Velho – Kobo

Sinopse: Julieta parece ter a vida perfeita. Aos trinta e sete anos tem um marido adorável que cozinha os melhores bolos. O emprego com que sempre sonhou e que a preenche. Uma casa cheia de luz e livros, onde a mesa está enfeitada com camélias. Então, por que motivo está agora sobre o varadim escorregadio de uma ponte, descalça e suja de sangue, prestes a saltar?

Afinal, nem tudo o que parece é. Quando um amor antigo regressa do passado, traumas são ressuscitados e uma proposta impensável desperta em Julieta um fantasma adormecido. Mas que proposta é essa que vem tornar a verdade perturbadora? E o que é a verdade quando a própria realidade a confunde?

Inquieta é um relato cru e intenso dos anseios e traumas de uma mulher. É a história de alguém incapaz de fugir do abismo da própria memória e de se sentir livre.

Opinião: Existem livros que nos deixam sem chão. Que nos deixam quase “marcas” visíveis a olho nu. Este é um deles. Quando pedi conselhos sobre que livros ler que abordassem a temática da saúde mental, este foi o que mais me foi recomendado pela comunidade. E tinham razão. Eu não sou a Julieta e o meu Gustavo, o meu marido, não é o Gustavo da Julieta, mas temos em comum um trauma muito marcante e o diagnóstico tardio do tipo de doença mental que tenho. Dei por mim a ler coisas que me aconteceram, e não há como não me identificar. A desconstrução de tudo aquilo que conhecemos, a construção de uma realidade que muito se quer. Julieta é uma personagem que apenas quer ser feliz e livre, livre de um amor que a sufocou, livre da culpa que acha que tem. Porque quando chegamos ao ponto de não retorno, à beira da ponte, tal como ela chegou, só existe uma saída. E senão tivermos quem nos auxilie, não é a saída com o final bonito. Esta opinião é muito pessoal, mas é o que sinto, e é isso que vos quero transmitir. Foi dos melhores livros que já li, está escrito de uma forma incrível, uma visão fria e real do que acarreta não ser saudável da mente e estou grata por tal como a Julieta, ter uma história para contar. Espero que por muitos anos. Não descurem ninguém com problemas de saúde mental. Bastam pequenos gestos para uma morte certa se tornar uma vida inteira.

Um Muro e Uma Cerca – Elisabete Martins de Oliveira – Cultura

Sinopse: Pequenos gestos podem mudar o rumo de uma vida.

Elias vive sozinho numa casa demasiado grande, já sem os três filhos, que emigraram, e sem a mulher, que morreu. Quando uma família se muda para a moradia ao lado — entre as muitas que de repente chegaram à Margem Sul do Tejo, desafiando-lhe o sossego —, desenvolve antipatia e desconfiança para com os vizinhos.

Do outro lado, contudo, um rapaz negligenciado pelos pais e pela avidez da vida moderna vai-se aproximando, curioso, apesar das barreiras erguidas por Elias. Com Santiago a começar de forma turbulenta o quinto ano na escola nova, o menino procura consolo e atenção junto do vizinho.

A sintonia entre Elias e Santiago cresce, mas uma notícia perturbadora vem ameaçar-lhes a amizade e trazer ao de cima as vidas difíceis que levam, e os segredos que escondem um do outro.

Opinião: Demorei bastante tempo até ter coragem para ler este livro. Mesmo após ter conhecido a autora e ter ouvido sobre o mesmo, tive que me preparar. E li no momento certo, na altura certa. Não me costumo comover com livros, até digo que tenho uma “carapaça dura” mas com esta estória linda de um menino com pais alienados de tudo o que os rodeia e envolva o filho, e de um idoso com filhos ausentes e viúvo, e como a vida os junta de uma forma quase poética, cheguei ao final profundamente comovida e com os olhos marejados de lágrimas. Não porque seja uma leitura triste (é dura, sim, forte, real) mas porque penso em mim e nos meus e nos tantos que por aí fora queriam tanto ter o amor que Elias e Santiago desenvolveram ao longo da narrativa. Porque a realidade é que quando dás amor, recebes amor de volta. E quando as adversidades da vida te põem à prova, também sabes com quem podes contar. Extremamente bem escrito e pensado, este livro é sem dúvida uma obra de arte que a Elisabete trouxe para os nossos corações. Recomendo muito (mesmo muito) esta leitura e mais uma vez, tão bem que se escreve em Portugal!

Nini – Ticas Graciosa – Cultura

Sinopse: Quando Nini era criança, o pai, atormentado por um transtorno obsessivo, matou-lhe a mãe e suicidou-se — ou, como a mulher em que Nini se tornou viria a aprender, «morreu de suicídio».

Inspirado num único acontecimento real da vida da autora, justamente a morte dos pais, Nini é um romance que mergulha na construção literária de uma criança que cresce num ambiente preconceituoso e violento, e no esforço que faz para o compreender e superar ao longo da vida.

Um entusiasmante romance de estreia de Ticas Graciosa, que, com espantosa riqueza de imaginação e surpreendente habilidade, ficciona uma dor talvez há muito esquecida, mas que lhe tem imposto uma constante aprendizagem, quase uma luminosa missão para a vida: alertar.

E Nini? Terá ela compreendido, terá ela perdoado?

Opinião: Mais um forte candidato a livro de 2024. Como não o ser quando está escrito com o coração e com a alma da autora? Como não o ser, quando desperta emoções ao ponto de nos sentirmos todos Nini?

Fiz um vídeo a falar sobre este livro que poderão ver por aqui ou na rede social vizinha, e mantenho que devia ser lido por todos, quiçá fazer parte do PNL, tendo em conta que muito pouco ainda se fala sobre saúde mental sem que seja colocado um peso e culpabilidade em quem já vive com a doença. Quem sofre de problemas de saúde mental, sofre também a vergonha (pai da Nini) e a negação quase constante por parte de quem o rodeia que existe um problema e que tem que ser resolvido. Tal como o pai e a mãe de Nini, todos os dias vemos nas notícias tragédias similares, tanta gente “morta por suicídio”, por norma sempre associado a ciúmes e sentimentos de posse. É uma realidade, e precisamos sensibilizar a população de forma a baixar os números horríveis de mortes em vão, e que podiam ser evitadas. Neste livro, o “assobiar para o lado” fez uma criança ficar sem os pais, fez uma criança crescer sem o amor que lhe estava destinado e já pensaram quantas Nini existem por este Mundo fora? Obrigado Ticas, por dares voz a quem precisa, por escreveres o que tantos pensam e não falam, o que tanto se poderia fazer e não se faz. Obrigado. Por mim, pelas Nini deste Mundo. Não descurem a saúde mental. Sem ela nada existe e nada funciona.

(Mar)ia – Rafaela Brito – Cordel d’Prata

Sinopse: Maria é conhecida pela sua genuinidade e pelo sorriso puro. Apaixonada pela natureza e pelo mar, é uma rapariga que encara a vida com leveza e ama a sua família.

Os seus sonhos estão a tornar-se realidade. Está tudo maravilhoso até uma noite de dança, bebida e festejos. Nessa noite nasce um pesadelo para Maria que a persegue, desde então. Ela tenta seguir em frente mas existe sempre algo a atormentá-la.

Ou será que esse pesadelo já existia há muito tempo, mas estava escondido entre mentiras?

Uma história de mistério, com vários acontecimentos, e, em simultâneo, uma história que nos remete para o amor próprio e pelo outro, para a família e para a realização dos sonhos.

Opinião: Maria é uma jovem adulta feliz, com um ambiente familiar fantástico (conforme ia lendo deu-me algumas “vibes” de algumas famílias da série Juvenil “Morangos com açúcar”), um futuro emprego de sonho, que quis o destino tirar-lhe o sorriso que mantinha quase de forma permanente a iluminar todos os que a rodeiam. Maria após o evento traumático pelo qual passa, sentiu culpa e vergonha como qualquer vítima deste tipo de situação sentiria, e acima de tudo medo. Medo do desconhecido. Todos eram inocentes, todos eram suspeitos. Imaginam a vossa vida ser boa, tranquila e de repente tiram-vos a paz? Gostei particularmente de Maria ser e pertencer a uma família unida, amante da natureza e animais, com bons valores e da força que ela teve para superar tudo o que teve superar, e que não importa de que status social vens, não importa se vens de boas famílias, o perigo espreita sempre através daqueles que em quem mais confiamos.

No final do livro temos uma página que nos remete para “O que aprendemos com esta ficção” e eu já li e reli tantas vezes quanto pude, porque foi sim uma enorme aprendizagem e devemos sim amar-nos em primeiro lugar e depois distribuir esse amor pelos outros. Gostei muito!

The Wife’s Secret – Debra Lynch – ARC reading/Kindle

Sinopse: Liz Hunter has done something evil.

To avoid prison, Liz flees Oklahoma and lands in an isolated desert town praying her past won’t catch up with her.

But when Liz and her new husband Gavin win the $698 million lottery jackpot her dreams catapult into nightmares.

Being hounded by a shady reporter intent on unearthing her gruesome past is bad enough, but it’s her husband she’s really worried about.

All that money has gone to Gavin’s head. The man she married, who used to be a kind, loving husband has turned into a cheating, manipulative monster.

But Liz will do whatever it takes to save herself.

Even if it means murder.

You might think you know what happens next, but you’re wrong. With jaw-dropping twists and turns, this is a book you will not be able to put down!

Opinião: Pela sinopse achei que ia amar este livro. Afinal, ganhar o Jackpot da lotaria e ficar milionário do dia para a noite deve ser incrivel mas também deve mexer muito com a cabeça de quem ganha. Se gostam de Thrillers Slow (muito) slow burn, então vão gosta deste de certeza. Eu como sou mais de gostar de leituras com reviravoltas a cada instante e que me efetivamente prendam à narrativa, demorei muito tempo a ler esta estória e no final, apesar de não ter desgostado, pensei que iria ser algo bastante diferente. As personagens a certa altura tornam-se aborrecidas e com comportamentos repetitivos, o que também não abona a favor da fluidez da narrativa. É um bom livro, mas não me conquistou, talvez porque demora muito até existir algo que nos faça realmente agarrar e não parar de ler até ao fim.

Eng Review: Based on the synopsis, I thought I would love this book. After all, winning the lottery Jackpot and becoming a millionaire overnight must be incredible, but it must also really mess with the winner’s mind. If you like Slow (very) slow burn Thrillers, then you will definitely like this one. Since I prefer readings that have plot twists at every turn and that effectively hook me into the narrative, it took me a long time to read this story and in the end, although I didn’t dislike it, I thought it would be something quite different. The characters at a certain point become boring and have repetitive behaviors, which also does not favor the fluidity of the narrative. It’s a good book, but it didn’t win me over, perhaps because it takes a long time before there’s something that makes you really grab it and not stop reading until the end.

Lottery of Lies (Lottery of Secrets #2) – Nadija Mujagic – Kindle Unlimited

Sinopse: Winning the lottery was supposed to be my ticket to a new life, a fresh start. But beneath the surface, I carry a chilling secret – a truth I’ve hidden from everyone. And it has marked the beginning of a descent into darkness that I can’t escape. As the burden of that sinister secret intensifies, my mind festers with paranoia and distrust, darkening the very fabric of the life I’ve constructed.

As I navigate this newfound world of luxury and opulence, my own mansion becomes a house of horrors, every corner hiding a potential threat.

I grapple with the blurred line between right and wrong, and the truth that awaits is more chilling than the darkest of lies. I sense danger at every corner and I need help. I question every motive, including my own, and the sinister tale of greed, betrayal, and personal demons takes a twisted turn that will leave you questioning just how far someone will go to secure their fortune.

Opinião: Adorei o Lottery of Secrets! Então como é óbvio tinha que ler a sequela. Gostei mas não adorei. Tendo em conta tudo o que a protagonista passa no primeiro livro, julgo que a mesma é demasiado julgada e condenada por algo que fez em mais que legítima defesa. Com a filha agora do seu lado, Lynn tinha tudo para usufruir da sua fortuna e criar laços familiares, no entanto quando temos segredos guardados com outras pessoas, ficamos sempre sujeitos a que alguém abra a a boca e nos denuncie. É uma sequela bem escrita, com uma narrativa fluída e personagens que se revelam mais neste livro, mas julgo que a Lynn continua na mesma a passar um mau bocado e que ter muito dinheiro não é solução para rigorosamente nada. Muito menos para a morte. Boas Leituras!

Eng Review: I loved Lottery of Secrets! So obviously I had to read the sequel. I liked it but didn’t love it. With everything that Lynn goes through in the first book, I think she is too judged and condemned for something she did in more than self-defense. With her daughter now by her side, Lynn had everything to enjoy her fortune and create family ties, however when we have secrets kept with other people, we are always subject to someone opening their mouth and exposing us. It’s a well-written sequel, with a fluid narrative and characters that reveal themselves more in this book, I still think that Lynn is having a hard time and that having a lot of money is not a solution for absolutely anything. Much less to death. Happy Reading!

Amar em caso de emergência – Vera dos Reis Valente – Porto Editora

Sinopse: Será o amor uma ilusão, ou o único objetivo que realmente importa?

Diana é uma mulher de 50 anos, refém de um casamento falhado. Profundamente insatisfeita, decide libertar-se e inicia uma busca incessante pela felicidade, ansiando por encontrar o amor verdadeiro e, ao mesmo tempo, duvidando da sua existência. Envolve-se com diferentes homens, que conhece pelo caminho ou que reencontra após vários anos de separação, mas cada novo relacionamento acaba por se revelar tão frustrante como os anteriores.

Amar em caso de emergência é um romance que promete agitar consciências, levando-nos a refletir sobre as nossas opções, o sentido que atribuímos à vida e a forma como o caminho para a felicidade se apresenta repleto de desafios e obstáculos.

Opinião: “Portanto o tipo tem toda a razão, acertou na mouche : sou egocêntrica, sou presunçosa e vou terminar velha (espero), amarga e solitária. Porque o amor é o melhor que nos pode acontecer, porque o carinho nos faz falta, porque a ausência de afeto nos encarquilha a alma, tornando-nos secos e duros que nem caroços deixados ao sol”

Diana é uma mulher que vive a difícil e árdua tarefa de tentar encontrar o amor verdadeiro. Mas pelo caminho, percebe que nem ela sabe, nunca soube o que isso é. Com uma escrita incrível, sem tabus nem censura, sem adoçar a viagem que Diana tem que fazer, a autora consegue exteriorizar sentimentos, situações e pedaços de vida de uma mulher que após um casamento infeliz, que ama os filhos, tentou encontrar o que a faria feliz. Mas nem isso chegava. Pelo meio, temos algumas reflexões, das duras batalhas que as mulheres ainda travam, contra uma sociedade obtusa e machista. Tais como:

Porque é que uma mulher não há de contabilizar o número de homens com quem fodeu e orgulhar-se de terem sido tantos? Porque é que eu não hei de querer chegar aos dez (que nem sequer é assim tanto) e pensar nisso com satisfação e alegre antecipação? Recordo-me de ver a série How i Met Your Mother, em que o mulherengo Barney Stinson diverte a audiência com a sua «maratona» sexual, vangloriando-se de estar perto das 200 mulheres que levou para a acama. Representa o típico garanhão e ninguém leva a mal. Mas, se uma personagem feminina tivesse o mesmo comportamento, não seria encarada com a mesma bonomia. Nós não nos podemos vangloriar, não podemos falar dos nossos «troféus», nem sequer confidenciar com todas as amigas em que número vamos, porque algumas delas talvez deixassem de o ser.”

E isto é tão verdade! Este livro representa uma boa parte das mulheres, mas nem elas sabem que assim o é. Por isso têm mesmo que ler esta ficção, que se mistura com a realidade a cada capítulo. Vão ter momentos em que vão virar os olhos às atitudes de Diana, e outras em que se irão compadecer e simpatizar.

A narrativa é escrita em forma de diário, por parte da Diana e com um narrador/a misterioso/a, que a conhece bem de perto e vai comentando o que de mais importante acontece na vida dela, o que ainda dá um ar mais sério e misterioso ao livro.

E no fim, será que Diana encontra a felicidade? Recomendo MUITO, eu adorei este livro. Tão bem se escreve em Portugal!

Quando as Montanhas Cantam – Nguyễn Phan Quế Mai – Alma dos Livros

Sinopse: Um país em guerra. Uma família dividida. Uma história de coragem e esperança.

Vietname, 1972. Do seu refúgio nas montanhas, a pequena Huong, e a sua avó observam Hanói a arder sob o fogo dos bombardeiros americanos. Até àquele momento a guerra tinha sido apenas uma sombra que afastara a família e dilacerava o país. Agora, entrava de forma brutal nas suas vidas.

Quando regressam à cidade, descobrem a sua casa completamente destruída e decidem reerguê-la, tijolo a tijolo. Para animar a neta, Di¿u Lan começa a contar a história da sua vida: desde os anos nas terras da família durante a ocupação francesa, as invasões japonesas e a chegada dos comunistas; da sua fuga desesperada para Hanói, sem comida nem dinheiro, e a dura decisão de deixar os filhos pelo caminho, na esperança de que, mais tarde ou mais cedo, se reencontrassem.

O tempo passa e quando finalmente terminam a reconstrução da casa, a guerra já terminou. Os veteranos estão a regressar da linha da frente e Huong pode finalmente voltar a abraçar a mãe, que está uma mulher muito diferente daquilo que ela se lembrava. A guerra roubou-lhe a esperança e as palavras; e caberá a Huong dar-lhe voz e ajudá-la na dura tarefa de se libertar do fardo amargo de todos os segredos…

Opinião: Existem leituras que à partida já sabemos que vão ser “pesadas” e fortes. Diria até poderosas. Ler este livro ensinou-me toda uma outra forma de pensar na vida e em como a devo viver. Ler este livro fez-me visualizar os horrores da guerra e suas consequências (e seja que guerra for, estamos em 2024 e as mesmas atrocidades continuam a ser cometidas e permitidas), mas também me fez visualizar um amor tão grande, tão forte, tão brilhante que nada nem ninguém consegue apagar. O amor de avó, de mãe, de filha, de irmãos, de FAMÍLIA de sangue e por afinidade. O amor que se multiplica e se espalha e contagia todos em volta. As diversas guerras pelas quais o Vietname passou destruíram tudo por onde passavam, e saber que existiram estas pessoas, resilientes, fortes (mesmo fortes, de espírito, de coração cheio) que sobreviveram e ainda deram graças por estarem vivos é simplesmente inspirador e incrível. Numa época em que somos tão privilegiados e mesmo assim nos queixamos diariamente de coisas fúteis e banais, quem sofre os horrores da guerra, continua a ter que seguir em frente. E ao lerem este livro, espero que percebam que o seguir em frente pode significar perdermos algo tão importante como o amor pelo próximo. E sem amor não se sobrevive. Gostei tanto deste livro e do que me ensinou que tenciono reler ao longo da minha vida. Para me ir lembrando que são as pequenas coisas que fazem toda a diferença quando se perdeu tudo.

A Livraria dos Pequenos Milagres – Mónica Gutiérrez Artero – Marcador

Sinopse: Alguns lugares são um refúgio nas nossas vidas aceleradas.

Alguns romances têm a capacidade de nos levar a esses lugares.

Agnes Martí é uma jovem arqueóloga de Barcelona que decide mudar-se para Londres em busca de uma oportunidade de trabalho. Depois de várias semanas sem êxito, uma chuva repentina surpreende-a enquanto dá um passeio e decide abrigar-se na livraria Moonlight Books. Por coincidência, o seu proprietário, Edward Livingstone, está à procura de uma assistente e oferece-lhe o cargo.

A jovem aceita e, aos poucos, vai descobrindo o encanto daquela pequena livraria. Até que, um dia, um dos seus livros mais preciosos e antigos desaparece. É então que o inspetor da polícia John Lockewood entra em cena para se encarregar da investigação e revolucionar a tranquila vida de Agnes.

Uma história para todos os que já sentiram que a literatura os salvou.

Opinião: Este é sem dúvida um dos romances envolvendo Livrarias que tive a oportunidade de ler mais fofinhos e agradáveis de se ler. Com personagens que nos cativam desde logo os primeiros parágrafos, assistimos ao nascer e renascer do amor, da amizade, das pequenas coisas que tendo como garantidas não damos tanta importância. De sonhos que podem ser concretizados e da literatura como “personagem principal” para que todos possam ser felizes. Tem passagens e menções maravilhosas a grandes clássicos da literatura, assim como locais icónicos e cheios de história (não fosse Agnes arqueóloga). Não há muito mais a dizer, é o livro perfeito para se ler numa tarde de chuva no quentinho das mantas acompanhada de um bem docinho chocolate quente.

Hunting You – Shade Owens – ARC Reading

Sinopse: My new coworker Erin Milton is hiding something.

She’s distracted, jumpy, and becomes visibly anxious every time she receives a new text message from her boyfriend.

I know what’s going on. I’ve been there. And something inside of me is telling me to help this girl… to get her out of that relationship before it’s too late.

The only problem is, as soon as I stick my nose where most people would say it doesn’t belong, I start receiving cryptic text messages from an unknown number. Worse, I think someone might be following me.

If her boyfriend is onto me, then I underestimated him, and I’m in real danger.

But that won’t stop me.

He has no idea what I’ve been through and what I’m capable of.

Opinião: Este livro é um conjunto de reviravoltas tão grande que me deixou a cabeça às voltas. A oitenta por cento da leitura ainda não tinha entendido NADA do que se estava a passar. A protagonista suspeita que a sua nova colega de trabalho esconde algo sombrio, tendo em conta a experiência que tem com relacionamentos abusivos ao longo da sua vida. Apesar de não se querer envolver, acaba mesmo por tentar ajudar Erin e as coisas começam a correr mesmo muito mal. A questão é que Bree, também tem um belo conjunto de esqueletos no armário, e aos poucos eles vão saindo e vamos descobrindo que aquilo que achamos que é verdade, não é. Confesso que suspeitei sempre que a Bree não era a típica boa Samaritana, mas tendo em conta todo o enredo e informações que vamos lendo, não esperava o final da forma como foi. Gostei mesmo muito, é de começar a ler e só parar no fim. Adoro a escrita da Shade Owens!

ENG Review: This book has such a plot twist that it left my head spinning. Eighty percent of the way through reading I still didn’t understand ANYTHING of what was going on. The protagonist, Bree, suspects that her new coworker is hiding something dark, a fact known by her experience with abusive relationships throughout her life. Despite not wanting to get involved, she ends up trying to help Erin and things start to go really bad. The point is that Bree also has a beautiful amount of skeletons in the closet, and little by little they come out and we discover that what we think is true, it isn’t. I confess that I always suspected that Bree wasn’t the typical good Samaritan, but with all the plot and information we’re reading, I didn’t expect the ending the way it was. I really liked it, I started reading and only stopped at the end. I love Shade Owens’ writing!

ATÉ ABRIL!!!!