Recebemos esta semana uma mensagem de uma pessoa que muito admiramos e a quem muito devemos: «Prezad@s Amig@s, começa este mês de Junho, na Cinemateca Portuguesa (Rua Barata Salgueiro, em Lisboa), uma retrospectiva abrangendo todos os meus filmes de longa e de curta metragem, com início no próximo dia 22 (sexta-feira) e que se prolongará pelo mês de Julho. O boletim-programa de Junho de 2012, cuja imagem da capa, com Ruy de Carvalho e Isabel Ruth, é do meu filme “Domingo à Tarde” (1965), pode ser consultado neste link. As primeiras sessões do ciclo, com os filmes que vão ser exibidos este mês, vêm nas páginas 7 e 8, e na página 16. Conto convosco! Abraços, António de Macedo.»
Transcrevemos a seguir, devidamente corrigido para Português Normal do original em «português anormal decorrente do aborto pornortográfico» inserido no referido boletim da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, o texto de apresentação da iniciativa:
«Arquitecto de formação, cineasta por vocação, mas também compositor, escritor e ensaísta, docente, António de Macedo é um protagonista singular do cinema português cujo panorama marcou entre os anos sessenta da sua estreia no contexto do Cinema Novo, época em que a sua obra é especialmente prolífera, e os anos noventa em que inflectiu de percurso, passando a dedicar-se mais activamente aos estudos e ensino universitários nas áreas das religiões comparadas, das tradições esotéricas, das formas literárias e fílmicas ou da sociologia da cultura, em que se doutorou em 2010. A sua primeira longa-metragem “Domingo à Tarde» é, em 1965, o terceiro filme proa do Cinema Novo Português, produzido por António da Cunha Telles como “Os Verdes Anos” de Paulo Rocha e “Belarmino» de Fernando Lopes. Com ela António de Macedo afirmou-se no contexto do novo fôlego da cinematografia portuguesa dessa década, mas como sucedeu com outros nomes da sua geração o seu percurso começara antes, no domínio do formato curto: inicia-se com os experimentais “A Primeira Mensagem” e “Ode Triunfal” e profissionalmente com “Verão Coincidente” e “Nicotiana” cuja originalidade chamou a atenção para o seu trabalho. Marca de água de toda a sua obra, cruzada por diversas influências e interesses, persistentemente apostada na experimentação das possibilidades visuais e sonoras no cinema (tanto nas curtas como nas longas-metragens, nas obras de ficção, documentais, institucionais e em filmes publicitários), essa originalidade revestiu-se, por outro lado, de uma dimensão polémica, em alguns casos feroz, que foi pontuando a recepção dos seus filmes a partir de “7 Balas para Selma”, a segunda longa-metragem. A produtividade dos anos sessenta estendeu-se à década seguinte, que Macedo atravessou desafiando os imperativos da censura, antes de 1974 (depois de em 1970 ser um dos fundadores do Centro Português de Cinema, foi em 1974 que co-fundou a cooperativa Cinequanon onde desenvolve a actividade de cineasta nos vinte anos seguintes), e dos cânones estabelecidos, estendendo as linhas mestras do seu cinema às questões sociais e políticas numa vertente documental. A dimensão fantástica, o imaginário popular e os elementos esotéricos dominam os filmes posteriores na convicção de que “a realidade é mais subtil do que aquilo que a gente vê. As incursões esotéricas que faço são tentativas de penetrar no universo real. Aliás pode dizer-se que o meu fantástico é mais real do que o real”. A retrospectiva da obra de António de Macedo que a Cinemateca agora propõe é uma travessia de várias décadas de história do cinema português e a revisão de um olhar reivindicadamente experimental, frequentemente polémico. Numa proposta de António de Macedo, começamos por “O Princípio da Sabedoria”, sendo a retrospectiva genericamente pensada a partir da sua cronologia. Incluindo longas e curtas-metragens, obras conhecidas e títulos mais raros, os filmes serão em grande parte apresentados em novas cópias tiradas no laboratório da Cinemateca. Será publicado um catálogo.»
Porque os filmes de António de Macedo continuam a não ser exibidos pelas televisões portuguesas – nomeadamente pela RTP – nem a estar disponíveis para venda em discos, esta é pois uma grande oportunidade, única e especial, para (re)ver todas as suas obras, das quais a Simetria dá, logicamente destaque especial a marcos cinematográficos nacionais da ficção científica e do fantástico como «O Príncipe com Orelhas de Burro», «Os Abismos da Meia-Noite», «Os Emissários de Khalôm» e «A Maldição de Marialva». Entretanto são também de ler e de consultar o sítio oficial de António de Macedo e a sua página (em inglês) na Wikipedia.