O colóquio «Mensageiros das Estrelas», ainda a decorrer na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, viu uma série de lançamentos de antologias — desde o livro «oficial» do colóquio até uma antologia de banda desenhada (em simultâneo com uma mostra de pranchas, nos corredores da FLUL).
«Lisboa no Ano 2000 — Uma antologia assombrosa sobre uma cidade que nunca existiu» é uma selecção de 14 contos organizada por João Barreiros, a ser lançada oficialmente pela editora Saída de Emergência em Janeiro de 2013.
No entanto, tal como os demais lançamentos neste colóquio, teve «direito» a ser pré-lançada naquele que é actualmente o maior evento anual sobre FC&F em Portugal, reunindo autores, desenhadores, realizadores, fãs e académicos na área da FC&F — não se deve deixar passar esta oportunidade de ouro, especialmente com o Natal tão perto…
João Barreiros descreveu o conteúdo da antologia «Lisboa no Ano 2000» como sendo uma colectânea retrofuturista electropunk, vagamente inspirada pela obra com o mesmo nome do Engº Mello de Mattos, publicada em 1906, e que descrevia uma cidade de Lisboa futurista, extrapolando a tecnologia da altura. Em 2012, um grupo de autores convidados pelo organizador da antologia receberam o desafio de se inspirarem nesse livrinho, e escreverem «como se fossem autores do final do século XIX descrevendo uma Lisboa em 2000». Dando, claro, o cunho pessoal de cada um aos contos que produziram — escusado será dizer que existe muita destruição nos contos de João Barreiro, mas o próprio confessa (talvez relutantemente!) que «conseguiu deixar ainda uma parte da cidade de pé».
Dirigíveis pairando sobre o Rossio; fábricas automáticas que germinam a partir de «ovos» e que se auto-reproduzem; gigantescas Torres Tesla (ilustradas por Marta Machado), uma das quais no Bugio; catapultas atirando produtos industriais entre as margens do Tejo (e por vezes falhando o alvo…) — é assim que é retratada nesta antologia a Lisboa retrofuturista do ano 2000.
João Barreiros ainda acrescentou que a venda da ideia à editora foi engenhosa. Fartos de publicar ficção científica, as editoras aceitaram, há uns anos atrás, a ideia de publicar steampunk, dado o fenómeno ter ganhado imensa popularidade lá fora. Mas hoje em dia já estão fartos e não querem publicar mais steampunk, tendo rejeitado a ideia de uma antologia steampunk sobre Lisboa. Então o organizador da antologia deu um golpe de mestre: invocando a realidade da ficção científica do final do século XIX — nomes como Jules Verne ou H.G. Wells — fez notar ao editor que o futuro previsto por estes autores não era movido a vapor, mas sim a electricidade. Foi só preciso convencer os autores da antologia a abandonarem o vapor dos seus contos e a substituí-lo, isso sim, por electricidade. A editora ficou convencida e aceitou publicar o que é a primeira colectânea retrofuturista electropunk em Portugal. Haja engenho!
Segundo o organizador da antologia, esta deve estar à venda no colóquio na FLUL durante o dia 30 de Novembro, em conjunto com as restantes antologias lançadas também no mesmo dia, com oportunidade para pedir autógrafos aos autores.