Hoje celebra-se – deve celebrar-se – mais um aniversário do nascimento de António de Macedo. Que, se ainda fosse vivo, completaria 92 anos. Guardá-lo connosco, na nossa memória, pode ser alcançado vendo os seus filmes e lendo os seus livros. Quanto a estes, poucos me faltam para adquirir e/ou ler, e um deles era (mas já não é) «O Terceiro Chega em Maio», editado em Agosto de 2020 pela Editorial Divergência, e que «é uma obra póstuma (…) que reúne vários contos da sua autoria, por si (isto é, e alegadamente, pelo próprio António, antes de falecer) seleccionados e organizados cronologicamente, de 1997 e 2012».
Dos oito contos incluídos nesta obra só dois – «Uma história romântica» e «Teia de enganos» – são verdadeiramente inéditos, ou seja, a sua primeira publicação é feita neste volume. Os restantes seis foram previamente publicados em outras obras, e é precisamente neste aspecto que se encontra um problema que, para mim pelo menos, não pode ser ignorado ou desvalorizado. Sobre os dois que saíram originalmente no Brasil – «Sereia dum mar sem fim» e «A 2ª mão esquerda de Deus» – nem eu nem a Simetria temos autoridade, legitimidade, para comentar, mas o mesmo já não acontece quanto aos outros quatro. Os três primeiros – «Efeitos de maré», «Entre horizontes» e «A condessa preguiçosa» – tiveram a sua estreia respectivamente em 1997, 1998 e 1999 em antologias lançadas pela nossa associação intituladas «Efeitos Secundários», «Fronteiras» e «Pecar a Sete»; ao contrário do que é referido num dos índices (um erro entre outros, como se verá mais adiante), «Entre horizontes» está não em «Pecar a Sete» mas sim em «Fronteiras», que aliás nem é mencionada. Porém, ninguém da Editorial Divergência nem algum dos dois filhos de António de Macedo (que nos conhecem, que sabem da nossa existência) nos contactou informando-nos deste projecto e pedindo a nossa autorização para a reedição dos contos. Porque aquelas edições da Simetria estão há muitos anos esgotadas, fora de circulação, poder-se-ia talvez compreender, desculpar, esta ausência de contacto, esta falta de consideração, de cortesia…
… Mas tal «tolerância» já não é possível, de modo algum, em relação ao conto intitulado «A conjura», publicado originalmente em 2012 na antologia colectiva «Mensageiros das Estrelas», que eu concebi e que organizei, e que continua, 11 anos depois, em distribuição e em circulação. Nem eu nem a editora Fronteira do Caos fomos contactados pela Divergência antes de esta autêntica sobreposição ter ocorrido; nunca nos chegou qualquer mensagem, nem em Maio nem em outro mês. Pelo que uma acção judicial justificar-se-ia certamente, mas o bom carácter e a generosidade de Victor Raquel, o meu editor nesta colectânea e também no meu livro «Os Novos Descobrimentos», publicado previamente no mesmo ano, foram o que impediram que este caso se tornasse num conflito desagradável e que não deixaria de manchar, indirecta e injustamente, o nome e a memória de António de Macedo. E o desrespeito pela fonte original não se ficou por aqui: o livro é identificado num dos índices como «Mensageiro da estrelas» – sim, três erros em três palavras – e a FdC como uma editora sediada em Lisboa, quando, na verdade, é do Porto. Todavia, não são estas as únicas falhas de revisão que podem ser encontradas neste livro: um dos «s» que faltou no título da minha antologia terá «viajado» para a página 57 e «colado-se» ao apelido de um dos mais famosos cientistas de sempre, ficando Stephen «Hawkings», e isto numa alusão a um artigo que, por sua vez, tem dois erros, no título – é «spacetime» e não «space time» – e no ano de publicação – 1984 e não 1989; ao longo do livro é também frequente a não mudança de parágrafo (dezenas de ocorrências!) ao passar-se de discurso directo para discurso indirecto. Na ficha técnica lê-se que duas pessoas fizeram a revisão… mas, claramente, não foram competentes nesse trabalho.
A partir de certo momento a juventude e a inexperiência deixam de ser desculpas e atenuantes. Esta é a terceira vez que a Editorial Divergência – e, concretamente, o seu fundador – toma uma atitude ofensiva, para mim e para pessoas com quem colaborei. Primeiro foi o projecto de uma antologia de contos em Inglês sabotado por uma exigência ridícula, e, depois, a constatação de que o Prémio António de Macedo tem sido organizado de uma forma deficiente, e quiçá fraudulenta, o que muito provavelmente torna todas as edições nulas e todos os «vencedores» ilegítimos. Decididamente, o Mestre merecia mais e melhor. E pensar que fui eu quem lhe sugeriu que enviasse o seu (literalmente) último romance, «Lovesenda ou o Enigma das Oito Portas de Cristal», a uma então nova editora que apostava exclusivamente em FC & F de autores portugueses…