Mistérios das múmias, com ou sem maldições

Abriu no passado dia 4 de Novembro e fecha no próximo dia 5 de Abril, na Biblioteca Nacional de Portugal: é a exposição «Tutankhamon em Portugal – Relatos na imprensa portuguesa 1922-1939».

Segue-se a transcrição (com erros ortográficos corrigidos) da informação sobre a mesma no sítio da BNP na Internet. «A descoberta do túmulo de Tutankhamon, a 4 de Novembro de 1922, foi noticiada pela imprensa  internacional de forma inusitada, tornando este faraó, o arqueólogo responsável pelo achado, Howard Carter, e o seu patrocinador, Lord Carnarvon, sobejamente conhecidos de milhões de leitores. Ironicamente, Tutankhamon era um dos faraós menos conhecidos da história egípcia e Howard Carter um arqueólogo sem créditos firmados que, assim, de um dia para o outro, passaram da obscuridade para as páginas dos periódicos. Esta extraordinária descoberta arqueológica foi profusamente divulgada pela imprensa portuguesa que, principalmente nos anos de 1923 e 1924, acompanhou com interesse o que se passava no Vale dos Reis, no distante Egipto. A forma como esta descoberta foi divulgada e o interesse que gerou na sociedade portuguesa ilustram bem a profunda relação existente entre a comunicação social e a história/arqueologia. Entre 1922 (ano da descoberta do túmulo) e 1939 (ano da morte de Howard Carter), 28 periódicos portugueses publicaram 234 notícias, de diferentes tipos (desde curtas e pouco desenvolvidas notícias de agência até reportagens desenvolvidas e ilustradas), sobre a descoberta do túmulo do faraó Tutankhamon e os diversos eventos a ela associados. A presente exposição é resultado directo de um projecto de investigação, no âmbito da recepção do Egipto antigo, intitulado Tutankhamon em Portugal. Relatos na imprensa portuguesa (1922-1939). O projecto recolheu e analisou todas as notícias publicadas, entre 1922 e 1939, nos periódicos portugueses, sobre a descoberta do túmulo do faraó Tutankhamon, mostrando como a imprensa portuguesa, informando com regularidade e detalhe os seus leitores sobre o que de mais interessante ia acontecendo no Egipto, se tornou um agente activo da recepção do Antigo Egipto em Portugal. Dar a conhecer, de forma simples, mas impressiva, essas diferentes notícias, enquadrando-as no âmbito dos trabalhos arqueológicos em curso, demonstrando o interesse da imprensa portuguesa pela descoberta arqueológica e factos a ela associados e a forma como fez chegar esta manifestação do Antigo Egipto aos seus leitores e ouvintes, bem como clarificar os contornos da “Tutmania” e “Mumiamania” em Portugal, estão entre os objectivos subjacentes a esta exposição.»

A evocação na BNP de Tutankhamon no centenário da descoberta do seu túmulo abrange ainda o curso livre «De Tutankhamon e Carter à Tutmania e Mumiamania», cujas (cinco) sessões – todas as quintas-feiras, de 5 a 26 de Janeiro de 2023, e a 1 de Fevereiro de 2023 (quarta-feira), das 17h30 às 19h30 – foram/serão conduzidas por José das Candeias Sales e Susana Mota, também os organizadores da exposição. Seguem-se as transcrições (com erros ortográficos corrigidos) das apresentações dessas sessões.

5 de Janeiro – «O Mundo de Tutankhamon, o faraó-menino»: «O faraó Tutankhamon (1333-1323 a.C.) subiu ao poder ainda criança (com cerca de oito anos de idade) e morreu antes de completar os 20 anos. Viveu na XVIII Dinastia, no Império Novo, um fascinante período da história do Egipto Antigo em que o mundo mudava muito rapidamente, com significativas alterações culturais, religiosas, políticas e administrativas, interna e externamente, ocupando o Egipto o centro da vida internacional. Importa conhecer de forma mais ou menos detalhada esse mundo para perspectivar correctamente a vida e a morte do faraó-menino, herdeiro de uma dinastia com cerca de 700 anos.

12 de Janeiro – «A descoberta do túmulo do rei dourado»: «A 4 de Novembro de 1922 o arqueólogo Howard Carter (1874-1939), trabalhando a expensas de George Edward Stanhope Molyneux Herbert, 5.º Lord de Carnarvon (1866-1923), descobre o início da escadaria que o levaria ao há muito procurado túmulo intacto do faraó Tutankhamon. Durante mais de 10 anos Carter e a sua equipa de arqueólogos recuperaram mais de 5 000 artefactos das várias dependências do túmulo real. Muitos desses objectos, depois musealizados, tornaram-se verdadeiros ícones da arte egípcia e da Egiptologia, sendo reconhecidos em todo o mundo.»

19 de Janeiro – «A maldição da múmia, mistério e fascínio»: «A cobertura mediática dada à abertura do túmulo de Tutankhamon constituiu um momento inusitado de disseminação do conhecimento sobre a grande descoberta arqueológica do Vale dos Reis. Com a morte de Lord Carnarvon a 5 de Abril de 1923, rapidamente se espalhou pelos meios de comunicação a ideia da “maldição da múmia”, da “vingança do faraó”, que supostamente atingiria todos os que ousassem importunar o sono eterno do faraó.»

26 de Janeiro – «Expressões da Egiptomania num mundo global, a “Tutmania”»: «A Tutmania é um fenómeno global da cultura popular que expressa todo o fascínio e admiração que se desenvolveu à volta do faraó Tutankhamon após a descoberta do seu túmulo por Carter e Carnarvon. Embora tudo em torno do faraó, do seu túmulo e dos seus tesouros tenha despertado grande interesse ao longo dos tempos, foi a “maldição da múmia”, particularmente desenvolvida após a morte de Lord Carnarvon, o que mais motivou o desenvolvimento de um enorme entusiasmo e fascínio por esta figura do antigo Egipto e a sua veneração por fãs de todos os quadrantes geográfico-culturais.»

1 de Fevereiro – «Expressões da Egiptomania num mundo global, a “Mumiamania”»: «As múmias são um tópico do fascínio pelo Egipto Antigo, desde o século XVIII até à actualidade, onde se mesclam a curiosidade mórbida e a científica com o apelo dos talismãs, amuletos e efeitos miraculosos. A Mumiamania, como obsessivo e ardente interesse popular pelas múmias egípcias, foi reforçada pela Tutmania e tem no cinema e no audiovisual os últimos testemunhos do seu poderoso impacto sobre vastas audiências. Moldando claramente a apreciação e a compreensão do Egipto Antigo, da sua cultura e das suas práticas e produções, a Mumiamania foi e é um importante agente na recepção da civilização do Egipto Antigo.»

Embora antes já existissem alusões artísticas a factos e a figuras mais ou menos sobrenaturais que poderiam ter existido no antigo Egipto, foi sem dúvida a descoberta do túmulo de Tutankhamon, e o rumor da maldição, da praga, que teria afectado muitos dos que de algum modo estiveram envolvidos naquela, que causou a vaga de fascinação – que, 100 anos decorridos, persiste – com a história do país em geral e com os seus ritos funerários ancestrais em particular. Prova-o os sucessivos filmes com diferentes variações da «Múmia», começando com o da Universal de 1932 (dez anos depois da descoberta por Howard Carter), mas também outros, menos de terror e mais de ficção científica, como «Stargate», ou até discos como «Powerslave» dos Iron Maiden.

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