Lembranças, boas e más

Escrevemos sobre ela aqui em Abril, e passados cinco meses voltamos a fazê-lo: Catarina Costa tem um novo livro, um novo romance, uma nova distopia; em 2022 foi «Periferia», em 2023 é «E Então, Lembro-me». Mais uma vez, é uma edição da Guerra e Paz.

Eis a sinopse: «Amnésica e castrada. Sem memória nem ovários. Entre reminiscências, uma mulher procura entender quem é. Uma obra de ficção distópica narrada na primeira pessoa. Laila acorda na cama de um hospital de uma cidade sitiada. Está amnésica. Uma série de pessoas como ela, a quem lhes foi extorquida a memória autobiográfica, vão parar a esta cidade, com o intuito aparente de servirem de mão-de-obra num complexo fabril. Presos e forçados a trabalhar nesta cidade onde a lei é administrada por autoridades anónimas, os habitantes tentam entender quem são e de onde vêm. Estarão a ser punidos por serem presos políticos ou por serem criminosos de delito comum? Ou terão sido seleccionados de forma arbitrária? Ao partilharem recordações fragmentárias e, muitas vezes, perturbantes, procuram criar uma imagem da sociedade a que pertenceram e de onde foram retirados, entre a realidade e a imaginação, a paranóia e o desejo. Ao mesmo tempo, reinventam a própria identidade a partir das narrativas que contam a si mesmos e aos outros sobre quem terão sido e quem poderão ser agora. Laila, como os outros, tenta recuperar as ruínas do seu passado. Poderão estas protegê-la de um abismo maior?»

A G&P divulgou um vídeo em que Catarina Costa apresenta a sua nova obra, uma «ficção distópica, género raro em Portugal e que a autora natural de Coimbra cultiva com mestria». É de facto um género raro em Portugal, mas, considerando o que se sabe que acontece(u) em outros sub-géneros da Ficção Científica e Fantástico em Portugal, tal não significa necessariamente que não existam, e tenham existido, trabalhos desse tipo mas sim que as editoras não se mostraram interessadas em publicá-los. Aliás, o autor destas linhas é-o também de um romance (o seu segundo) que é uma distopia, e que a editora de «E Então, Lembro-me» rejeitou – e não foi a única a fazê-lo.