Este ano as efemérides cinematográficas normalmente assinaladas, aqui no Simetria, em Dezembro começam, pode dizer-se, um pouco mais cedo, e para um filme em especial… porque é, na verdade, um filme muito, mas mesmo muito especial, talvez o melhor de ficção científica alguma vez feito, e talvez até, porque não, o melhor filme tout court alguma vez feito. Trata-se, claro, de «2001 – Uma Odisseia no Espaço», realizado por Stanley Kubrick a partir de um argumento co-escrito por ele com Arthur C. Clarke, que estreou em Abril de 1968 – no dia 2 em Washington, no dia 3 em Nova Iorque e no dia 4 em Los Angeles. Passaram, pois, 50 anos; há meio século imaginava-se como seriam a Terra e o espaço… há 17 anos.
Não existiu propriamente um «programa oficial» de celebração, mas uma iniciativa ocorreu – no passado dia 13 de Maio – que se aproximou mais desse conceito: a exibição de uma nova cópia – em 70 milímetros, logo em largo espectro visual – no Festival de Cannes de 2018, numa sessão presidida por Christopher Nolan, e que deste modo pôde apresentar e homenagear o seu filme favorito, que viu pela primeira vez quando tinha apenas sete anos. Acompanhado na ocasião, entre outros, pelos irmãos Christiane Kubrick e Jan Harlan, ela a viúva (e actriz em «Caminhos da Glória», em cuja rodagem aliás se conheceram) e ele o cunhado (além de habitual colaborador e produtor) do lendário realizador, esta foi mais uma oportunidade para o autor de «Dunquerque» salientar a necessidade de preservar os trabalhos em películas, as obras em celulóide, uma tarefa que continua a correr o risco de ser secundarizada devido à – previsivel, e mesmo inevitável – generalização da digitalização cinematográfica; deve-se referir, porém, que nem todos confiam na capacidade e no contributo do criador de «Incepção» para (ajudar a) concretizar tal tarefa, talvez por preconceitos ideológicos suscitados pela sua «trilogia “Batman”». Nolan mostra o impacto que «2001» teve nele de uma forma mais evidente em «Interestelar», mas, obviamente, outros cineastas foram profundamente marcados pelo filme (agora) cinquentenário em particular, e por toda a obra de Stanley Kubrick em geral – um deles é Alfonso Cuarón, que tem como «prova» disso, claro, «Gravidade».
Para além disto, a evocação da efeméride aconteceu principalmente, e como é habitual nestes casos, nos media, e não apenas na imprensa que se especializa em entretenimento e em cultura, através de artigos que abordam, enunciam e analisam (praticamente) todas as incidências da produção de «2001 – Uma Odisseia no Espaço», isto é, o «antes» e o «durante» mas também, e sem dúvida o mais importante, o «depois»: as reacções, as influências, as consequências, enfim, o legado. Exemplos: na Vanity Fair, «os mais esquisitos, os mais maravilhosos segredos nos arquivos»; no Wall Street Journal, o filme que «olhou para o futuro»; no Guardian, «como fizémos» algo que «mudou a própria forma do cinema»; no New York Times, no que «acertou» aquela que «ainda é a “derradeira curte”»; no SFGate, «porque é ainda fascinante aos 50»; no MentalFloss, «12 factos fora-deste-Mundo»; na New Yorker, «o que significa e como foi feito»; na Variety, «influenciou gerações de cineastas como Nolan e Cameron». Menos recentemente, em anos anteriores a 2018, algumas interessantes retrospectivas também foram feitas: na Variety, «mais caro e atrasado em relação ao plano inicial, mas um clássico radical»; no BFI (British Film Institute), «a carta que começou» o projecto; na Wired, «o espantosamente correcto futurismo» do filme; no Space, uma «infografia explicativa»; no CinephiliaBeyond, um «trabalho pioneiro que é um dos filmes mais significativos alguma vez feitos»; e um sítio dedicado em exclusivo ao filme, Kubrick2001.
2018 é também quando se assinala o 90º aniversário do nascimento de Stanley Kubrick… daqui a aproximadamente dois meses: ele nasceu a 26 de Julho de 1928. Não chegou a (vi)ver o ano que eternamente marcou na história do cinema, pois faleceu a 7 de Março de 1999, antes da estreia do que seria o seu derradeiro filme, «Olhos Bem Fechados»; não entrou no século do qual foi um dos mais notáveis e prescientes arautos e oráculos.