Os valeiros (“gullies”), formas escavadas nas paredes internas de muitas crateras e desfiladeiros em Marte, são um mistério. Em muitos locais parecem ser de origem recente, e o seu aspecto faz lembrar aquilo que se pode observar aqui na Terra em qualquer talude de auto-estrada ainda sem vegetação depois de um período de chuvas…
A possibilidade de, também em Marte, a sua origem estar ligada à actuação da água na forma líquida foi várias vezes levantada, embora nunca comprovada. Mas agora uma equipa de investigadores americanos, liderada por Troy Shinbrot, da U. Rutgers, apresentou uma outra hipótese: os gullies terão sido criados por deslizamentos de material fino, sem intervenção de líquidos. Na realidade, a menor massa de Marte (e consequente menor gravidade), bem como o facto de a atmosfera ser rarefeita, daria características únicas a estes deslizamentos marcianos, permitindo aos grãos flutuar e deslizar… como se imersos em líquido. A equipa que realizou este estudo provocou deslizamentos utilizando microsferas ocas de material cerâmico e obteve morfologias semelhantes às observadas no planeta vermelho.
Porém, uma das questões que não é respondida é precisamente a variada morfologia apresentada pelos gullies, que leva a pensar que nem todos têm a mesma origem, e que provavelmente vários mecanismos estão envolvidos na sua formação – entre os quais poderá muito bem estar o proposto por Shinbrot e colegas.