O Conquistador (bib.) é mais um conto curto de Bruce Holland Rogers. Desta feita estamos no reino da fantasia, entre trolls — ou troles, como o tradutor os aportuguesa —, que um belo dia (ou noite; não se sabe bem pois rezam as histórias que o troll é criatura que habita na escuridão eterna das cavernas) sonham com um deus novo chamado Conquistador. Este promete-lhes uma vida mais fácil, à superfície, aquela vida que os homens vivem na sua cidade. Para a obterem, basta-lhes terem nele fé, prestarem-lhe homenagem e fazerem o que lhes ordenasse. Ah, e chamarem-no de vez em quando pelo seu verdadeiro nome. Em troca, ele trataria de os ajudar a conquistar essa nova vida. E os trolls assim fazem, e o deus cumpre o prometido. Mas um deus chamado Conquistador é capaz de não ser inteiramente digno de confiança.
Trata-se de mais uma boa história, com fartas quantidades de conteúdo para quem o souber entender, em especial tendo em conta que Rogers é americano e que se há no mundo de hoje país que tende a ceder aos caprichos do deus Conquistador, esse país chama-se Estados Unidos da América. Não acho que seja dos melhores contos do livro, mas é bom.
Arquivo do dia: 2012-12-17
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Uroplatus phantasticus
Enquanto criança, Holly nunca celebrou o Natal, pelo que, depois de casar, quis compensar essa falta e, na companhia do marido, viver ao máximo as festividades. Mas a morte de Alan num acidente no gelo poucos dias antes do Natal levou-a a pôr de parte as celebrações. É por isso que, quando mais ninguém está disponível, Holly está disposta a passar a época festiva em locais remotos, a tomar conta de casas e animais quando os donos vão de férias. Tudo o que quer é silêncio e tranquilidade, para que se possa esquecer de que o Natal existe. Mas, quando o trabalho que a deveria ocupar é cancelado e um outro surge, as coisas começam a correr mal. É que o casal que tomava conta da casa de Jude Martland comprometera-se a tratar do jantar para os familiares presentes e, mesmo que isso não faça parte das suas responsabilidades, Holly começa a sentir-se culpada por recusar, quando o dono da casa partiu para longe sem pensar na situação. Como se não bastasse, Jude Martland é um homem de temperamento difícil e bastam algumas chamadas telefónicas para que ele e Holly se irritem mutuamente. Será possível que, tanto para Holly como para os Martland, o Natal não acabe por ser uma catástrofe?
Leve e descontraído, com algo de romance e centrado essencialmente nas personagens, este é um livro que cativa principalmente pelas emoções que evoca. E, como tende a acontecer neste tipo de história, parte do que torna a história interessante está na capacidade de sentir empatia para com as personagens. Neste aspecto, a história está, no geral, bastante bem conseguida, ainda que, por vezes, a ligação entre os protagonistas pareça tudo menos harmoniosa.
Na verdade, ainda que haja um romance entre duas personagens, Holly tem bastante mais protagonismo que Jude e este revela-se, a princípio, sobretudo pelos seus defeitos. Claro que isto faz com que a primeira impressão dele não seja das melhores, mas contribui também para alguns bons momentos de tensão e também para várias situações divertidas. Além disso, os atritos entre Jude e Holly acabam por evoluir para uma relação bem mais interessante que, fugindo em muito aos elementos românticos mais previsíveis, acaba por servir para revelar o melhor dos dois, numa relação que evolui de forma que, não sendo inesperada, não deixa, ainda assim, de ser divertida.
Mas nem só da relação entre Jude e Holly vive a história. Na verdade, essa é uma parte que apenas ganha protagonismo numa fase já avançada do enredo. Antes de isso, há outros elementos a considerar. A história da avó de Holly, com a possível ligação aos Martland, é desenvolvida de forma discreta, mas sempre intrigante, conferindo ao livro um agradável toque de mistério. E a relação de Holly com os Martland, com todos os atritos e episódios caricatos, bem como com as situações mais ternas, representa um percurso de superação da dor para a protagonista, bem como, ao mesmo tempo, um bom retrato de união familiar, apesar dos inevitáveis conflitos.
Cativante e enternecedor nos melhores momentos, Noite de Reis apresenta uma história que, não sendo particularmente complexa, proporciona, ainda assim, uma leitura leve, divertida e que, entre as situações mais bizarras e os conflitos entre personalidades contrastantes, consegue também surpreender pela intensidade emocional. Um bom livro para descontrair, portanto. Gostei.