Óbito de Paula Barreto («Xinha»)

Foto de perfil da Paula Barreto («Xinha»)

É com grande pesar que a Simetria se junta ao vasto número de pessoas que manifestaram as suas profundas condolências aos amigos e família mais próxima da Paula Barreto, que infelizmente já não se encontra entre nós, tendo falecido no passado dia 15 de Janeiro de 2024, vítima de prolongada luta contra o cancro.

A despedida final da Paula será feita no dia 20 de Janeiro de 2024, pelas 16h30, em velório no Centro Funerário e Crematório de Cascais, em Alcabideche. A cremação será feita no dia seguinte, 21 de Janeiro, pelas 12h00, antecedida pelas cerimónias fúnebres a celebrar pelas 11h30.

A Xinha — como era conhecida entre todos os amigos — foi um dos pilares da Simetria enquanto associação, tendo assegurado, ao longo de vários (e intensos!) anos, o trabalho administrativo envolvido na organização dos eventos internacionais por nós promovidos, e que a obrigava a passar incontáveis horas na «cave fantástica» sob a bancada do Pavilhão Dramático de Cascais (demolido em 2003) e que servia de sede física da nossa associação. Era aí que ela se encontrava a lidar com os convidados, a tratar dos alojamentos e depois da recepção dos mesmos; mas uns eventos como os Encontros requerem um trabalho de logística muito mais extenso, desde a procura de fornecedores para as vastas tendas que iriam alojar os livros à venda em plena vila de Cascais, até à impressão dos vouchers com os quais a organização da Simetria e os seus convidados podiam — nos restaurantes aderentes — comer à vontade sem se preocuparem em levar a carteira.

Nesses dias intensos, víamos a Xinha de manhã, com o seu pasteboard (e um telemóvel!) a andar pelas ruas de Cascais à procura de gente «perdida», encaminhando-os para o local adequado; depois organizava o calendário todo das actividades que iam decorrendo ao longo de cada dia, garantindo que tudo estivesse no seu lugar — e arranjando sempre uma solução quando ocorria alguma coisa inesperada. E, finalmente, à noite, para o programa social, lá estava ela de roupa mudada, maquilhada e com o cabelo arranjado, sempre com um sorriso, seja no Casino Estoril, seja na discoteca da moda, seja onde quer que fosse que a organização dos Encontros, impiedosa, achasse por bem prosseguir as suas actividades.

Para a maioria dos voluntários da Simetria, o trabalho árduo terminava no momento em que acabavam os eventos; mas não para a Xinha. Incansável, depois era preciso arrumar tudo — tanto fisicamente como em termos da «burocracia» — e preparar-se para o próximo. Mas o trabalho da Simetria não se resumia a um evento anual, por muito complexo que fosse de organizar; havia também o trabalho de edição literária, seja através da revista Paradoxo (que chegou a ser mensal), seja através das Antologias Bilingues de FC&F, que, apesar de serem apenas editadas anualmente, requeriam meses de preparação, recolhendo os textos de todos os autores, enviando-os para os tradutores, e depois assegurar que iam para a tipografia na altura apropriada, para estarem impressos e prontos a serem distribuídos (e vendidos!) nos próximos Encontros.

E depois haviam as acções de divulgação de FC&F, seja através dos autores que iam às escolas e às bibliotecas, seja através do formato das Tertúlias, onde, na sede da Simetria, era possível assistir a filmes (e depois debatê-los), ou livros, ou qualquer outra coisa que fosse necessária. Isto precisava de divulgação, de coordenação, de envio de emails aos sócios e simpatizantes sempre «esquecidos». E ainda haviam entrevistas — a jornais, a revistas, à TV… — e todo o tipo de actividades promocionais que iam acontecendo, aqui e ali, e que requeriam a coordenação de toda uma complexa logística, por mais «simples» que depois o evento em si pudesse parecer.

E como a Simetria é uma associação sem fins lucrativos, e as quotas eram pouco mais do que simbólicas, não seria possível fazer absolutamente nada sem a angariação de patrocínios, e isto lá significava mais uns telefonemas, mais umas reuniões, mais umas trocas de emails, para que não se «esquecessem» de nós nos seus momentos de generosidade. Também haviam acordos de cooperação com outras entidades — incluindo algumas internacionais! — e parcerias estabelecidas, que requeriam que alguém estivesse sempre disponível para as contactar; sendo evidentemente o caso mais notório a coordenação com o departamento da Cultura da Câmara Municipal de Cascais — tendo em conta que o apoio da CMC não se resumia a uma contribuição financeira (essencialmente simbólica), mas sim na autorização da utilização dos espaços públicos da autarquia para os eventos da Simetria, na disponibilização de material de apoio, na divulgação (através de cartazes e mupis explorados pela própria CMC para o efeito), e na coordenação de calendários (para evitar sobreposição de «grandes eventos» com os eventos principais da Simetria).

A história da Xinha na Simetria é a história da própria Simetria. Coordenada pela Maria Augusta, a Xinha era o rosto sorridente da associação, que trabalhava incansavelmente para defender as cores da Simetria — muito para além do esforço que seria exigível a um «mero colaborador», pois tudo aquilo que a Xinha fazia pela associação não tinha preço. Claro que o fazia por muito mais do que o mero «amor à camisola»; também o fazia porque gostava de ficção científica e fantástico e queria colocar a «sua terra» — Cascais — no roteiro internacional da FC&F, dando a conhecer ao público português aqueles autores badalados que apenas conhecíamos pelas traduções e que jamais pensaríamos poder ver «ao vivo e a cores», bem como, por sua vez, mostrar ao público internacional que também se fazia FC&F em Portugal, congregando cineastas, dançarinos, autores literários e artistas plásticos que também tinham trabalho feito e que precisavam de quem os divulgasse.

Foi um «virar de milénio» cheio de actividade, cheio de força, muito intenso, em que a Xinha criou fortíssimos laços de amizade com todo o tipo de pessoas à sua volta — para ela, parecia sempre fácil fazer um amigo novo! — e que hoje a podem recordar como ela era nesses dias, cheia de energia e de empenho em «lutar» pela causa da FC&F que tanto a entusiasmava.

A Simetria orgulha-se do privilégio de ter tido uma pessoa como a Xinha a traçar a rota «por mares nunca navegados», numa altura em que, em Portugal, a FC&F ainda tinha um fortíssimo estigma negativo.

Hoje resta-nos prestar-lhe uma curtíssima homenagem, qual ponta do icebergue de tudo o que a Xinha significou para nós, e esperar que a sua Derradeira Viagem lhe traga o repouso merecido. Aos seus amigos e familiares, apresentamos o profundo respeito e carinho que tivémos por uma pessoa que teve um papel tão importante — não apenas a nível profissional, mas também nos nossos corações, sempre repletos da energia positiva contagiosa que a Xinha irradiava.

Bem haja.

— Luís Richheimer de Sequeira
(presidente)