O Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa já transmitiu, neste início de ano de 2018, duas importantes «mensagens» relativas aos «Mensageiros das Estrelas», tanto na vertente “publicação” (digital) como na “vertente” colóquio.
Quanto à primeira, ao «Journal» internacional, que oferece «artigos académicos, recensões, e que providencia um meio para uma gama alargada de trabalho criativo inspirado pela ficção científica e fantasia», já iniciou o processo de admissão e de selecção de textos para a sua edição Nº 4, a sair em 2019 – as propostas podem ser enviadas até ao próximo dia 15 de Junho. O tema? «Como as mentiras e os “factos alternativos” – tal como cunhados por Kellyanne Conway – podem ser ao mesmo tempo a base, para uns, para derrubar governos ou permanecer no poder, e, para outros, uma maneira de proteger a sociedade que seria dilacerada pela guerra ou pelo desastre se a verdade viesse ao de cima. Assim, o interesse reside em ver como as mentiras e os factos alternativos são usados para despojar as pessoas do seu poder de decidir por elas próprias entre o bem e o mal – a questão de levantar o peso da condenação moral do canibalismo é central no filme “Soylent Green” (1973) de Richard Fleisher, e leva a que nos interroguemos sobre se a falsificação pode ou não alguma vez ser justificada. Nas nossas sociedades, em que as mentiras, de uma forma ou de outra, são partes integrantes das nossas vidas quotidianas, o tema da verdade e dos factos deve ser questionado e podemos nos perguntar sobre até onde eles podem fazer perigar as nossas assim chamadas democracias contemporâneas. Iremos estudar as ferramentas usadas pelos fabricantes e falsificadores na distorção da realidade e minimização da verdade (propaganda, manipulação política, narrativa e guerra informativa), e também o efeito que um recurso não mitigado a mentiras tem nas estruturas sociais.» Seguem-se sugestões de autores e de obras que podem ser tomados como tópicos possíveis, entre os quais: «Eles Vivem», de John Carpenter; «Watchmen», de Alan Moore e Dave Gibbons; «Ficheiros X», de Chris Carter; «Neuromancer», de William Gibson.
Aqui, uma breve nota: embora acredite que não fosse essa a intenção, creio que seria preferível para o CEA não permitir sequer a «aparência», ou a «suspeita», de que «toma um partido» na referência e na análise do actual panorama político-social-cultural dos Estados Unidos da América; quem conhece aquele com alguma clareza e profundidade, como é o meu caso, sabe que Kellyanne Conway queria dizer «fontes» e não «factos (alternativos)»; quem quiser exemplos verdadeiros de comportamentos não éticos e mesmo criminosos nos EUA, suficientes para inspirar várias distopias, tem muito por onde escolher na história do Partido Democrata, desde a escravatura e a segregação até, mais recentemente, ao culto da personalidade a Barack Obama.
Quanto à vertente «colóquio», a quinta edição – ou «episódio cinco» – já tem datas: realizar-se-á a 29 e 30 de Novembro deste ano, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e as propostas de comunicações podem ser enviadas até o próximo dia 30 de Abril. Terá como tema, e título, «Fragmentos de Humanidade». Porquê? «Desde o seu início, a Fantasia e a Ficção Científica tem questionado noções essenciais tais como “o que significa ser humano?”, “quais são os limites da humanidade?”, “somos mais ou menos humanos do que os nossos antepassados?”, entre outras. Estes temas recorrentes emergiram nas escritas dos séculos 18 e 19, nomeadamente na novela gótica e em trabalhos tais como “Dr. Jekyll e Sr. Hyde” (1886) de Robert Louis Stevenson ou “Frankenstein” (1818) de Mary Shelley, um livro que celebra o seu 200º aniversário em 2018. Inspirados por estes temas pioneiros e alimentados por avanços na tecnologia, tais temas tornaram-se mais e mais complexos na literatura, cinema, séries televisivas, banda desenhada, música e outras formas de arte dedicadas à FC & F. O que está a acontecer ao corpo humano? Ainda somos humanos ou estamos a tornar-nos em algo de diferente? Ainda estamos inteiros, ou passámos a estar fragmentados? Somos humanos, pós-humanos, metahumanos e/ou transhumanos? Como podem os híbridos e os monstros permitirem-nos reflectir sobre noções de eu e de identidade? Devemos redefinir essas noções? Nesse caso, qual é o papel da inteligência artificial nesta redefinição? Qual é o impacto da nossa humanidade fragmentada no nosso ambiente social? Quais podem ser as consequências em culturas actuais e futuras e nas suas crenças e sistemas religiosos?» Já estão confirmados, como oradores convidados, Filipe Furtado e Mike Carey.
Em 2012, aquando da segunda edição/«episódio dois» do colóquio «Mensageiros das Estrelas», tive a alegria e a honra de apresentar uma antologia colectiva de contos de FC & F (com o mesmo título do evento) que concebi, (co-)organizei e em que participei. Seria possível que, em 2018, algo de semelhante pudesse acontecer? 😉