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O Que Estranho é a frequência com que, no meu contínuo mergulho pelas entranhas do (pouco) que se possa identificar como Ficção Científica portuguesa clássica, ocasionalmente misturando-se com os praticantes da (pouca) real pulp fiction lusitana, encontro convicções desta natureza, atiradas sem qualquer contexto e sem qualquer relativização face ao género (pois não duvido que o autor tinha um tipo particular de histórias em mente).
Que o mainstream nos castigasse pela nossa ousadia de marginalidade, perfeito – faz parte do jogo. Receber invectivas destas dos que labutam ao nosso lado é mais complicado. E não – não foi o único. Mas ao menos é uma pista adicional – e importante – para compreender a dificuldade de consolidação do género neste país na época em que supostamente devia medrar.
Da entrevista de António Dias de Deus a Raul Correia, autor frequente d’O Mosquito – o negrito é nosso:
(…) D.D. – Há ainda muitas novelas, sem qualquer nome de autor. Poderia identificá-las?
R.C. – Vejamos: «O Falcão da Pradaria» – Raul Correia; «O País dos Ventos Ululantes» – José Padinha; «O Vale do Silêncio» – Raul Correia; «O Punhal do Imperador» – José Padinha?; «O Juramento de Águia Negra», «Um Caçador Fez testamento», «Quero Ser Palhaço», «Tobias Contou a História» – José Padinha? Quanto a «O Príncipe e o seu Fantasma», sabia que muitas dessas histórias eram adaptações de histórias inglesas? Essa, por exemplo, era de ficção científica. Eu nunca escreveria ficção científica, género que detesto.
D.D. – Sim, é um género que denota grande falta de imaginação.
R.C. – Pois é. Inventa-se um planeta estranho, fabricam-se uns habitantes desse planeta, e, no fim, fazemo-los actuar como se tivessem um comportamento humano. Ora, se houvessem outros tipos de vida, eles poderiam ser totalmente diferentes dos nossos. Até talvez nem fosse precisa a existência de água. Nós só falamos daquilo que já conhecemos.
«Mazagran, palavra que outrossim não se encontra no texto, designa uma bebida favorita no Maghreb: um copo grande cheio até mais de um terço com café forte, um volume igual de água gasosa, muito açúcar, uma rodela de limão. Quando o Profeta ab…