Não é apenas por preconceito, e até por receio, em relação à Ficção Científica e Fantástico e à sua indubitável superioridade e (maior) relevância enquanto género literário e artístico, que intervenientes privilegiados no campo cultural – jornalistas, críticos, editores, jurados de prémios, políticos e funcionários públicos com responsabilidades naquele – a desvalorizam e tentam subalternizar, prejudicando assim as suas possibilidades de alcançar um público (mais) alargado. Também é, frequentemente, por ignorância. Dois casos recentes, e quase coincidentes, disso mesmo merecem ser aqui relatados.
O primeiro foi protagonizado por Eduardo Pitta, que escreveu no seu blog Da Literatura que «infelizmente, (Ray) Bradbury não tem tido fortuna na edição portuguesa, estando embora traduzidos os dois ou três livros mais conhecidos»; o que motivou uma resposta por parte de… uma certa pessoa no seu blog A Lâmpada Mágica, que esclareceu o «literato» colaborador das revistas Ler e Sábado que, na verdade, do autor de «Fahrenheit 451» foram publicados no nosso país quase 20 livros; é evidente a desilusão do militante do Bloco de Esquerda em relação ao apoiante do Partido Socialista, mais concretamente pela «desinformação algo grotesca» – na verdade, desconhecimento, desinteresse e desleixo – demonstrada pelo segundo; e tanto deve ter custado ao primeiro escrever a «posta», pois, afinal, é tão grande a proximidade ideológica entre os dois…
O segundo caso foi protagonizado por Nuno Galopim, que escreveu no seu blog Sound + Vision – em que tem João Lopes como parceiro – que dois livros de Arthur C. Clarke, «2061 – A Terceira Odisseia» e «3001 – A Odisseia Final», nunca foram traduzidos e editados em Portugal; só que… foram mesmo, e eu enviei uma mensagem (até agora sem resposta) a dar essa informação, acrecentando que aquelas duas obras integra(ra)m a colecção «Nébula» das Publicações Europa-América, a primeira (que, aliás, eu possuo, numa 2ª edição de 1988) com o número 25 e a segunda com o número 63; apesar de, insolitamente, tal facto não constar actualmente no sítio na Internet das PEA, a «prova» pode encontrar-se, por exemplo, no índice da colecção incluído na edição portuguesa de «Roma Eterna» de Robert Silverberg – livro extraordinário que eu também tenho, que foi o meu «destaque na literatura» do segundo quadrimestre de 2006, e que constituiu ainda, como revelei na introdução, uma influência decisiva na concepção de «A República Nunca Existiu!»
Enfim, é igualmente de referir que tanto o Da Literatura como o Sound + Vision não permitem a inserção de comentários. O que não obsta, como se vê, a que existam sempre meios de repor «a(s) verdade(s) a que (todos) temos direito». Que, neste caso, é a de que aqueles livros existem, ou existiram, em Português; não foram enviados ao espaço, não foram queimados. 😉