A concepção e a realização da (primeira fase da) iniciativa «Bolsa de Guiões» entre a Simetria e o FantasPorto implicou, principalmente, um (primeiro) levantamento de obras de Ficção Científica e Fantástico que pudessem – e possam – ser bases, «matérias-primas», para potenciais, futuras, eventuais adaptações audiovisuais. A primeira prioridade foi, compreensivelmente, para aquelas que estão disponíveis electrónica e gratuita e integralmente na Internet, porque assim o acesso a elas é imediato. Muitas outras, mais ou menos antigas, só se encontram presentemente em bibliotecas públicas e/ou privadas… ou em alfarrabistas.
Porém, há que considerar também todas as que (ainda) estão à venda no circuito comercial normal e que podem ser adquiridas. A colaboração com a equipa que organiza o Festival Internacional de Cinema do Porto motivou-me também para elaborar uma lista daquelas, susceptível, obviamente, de alterações permanentes. E decidi que hoje, quando começa a edição de 2015 da Feira do Livro de Lisboa, destacaria algumas, incluindo-se as ligações para as páginas das respectivas editoras que confirmam a sua presença no «sistema». Estão excluídas, evidentemente, aquelas que eu sei estarem «redigidas» segundo o denominado «acordo ortográfico de 1990».
Comece-se por livros de António de Macedo: «O Limite de Rudzky», «Sulphira & Lucyphur», «O Cipreste Apaixonado», «A Conspiração dos Abandonados» e «O Sangue e o Fogo». Continua-se com João Aguiar: «Diálogo das Compensadas», «O Sétimo Herói» e «O Jardim das Delícias». Outro João, o Barreiros, logicamente não podia faltar: deverão achar-se nas bancas e prateleiras «A Verdadeira Invasão dos Marcianos» e «Se Acordar Antes de Morrer». Não poderia faltar, num rol deste género, José Saramago, e nunca é demais recordar que o único Prémio Nobel da Literatura português era, fundamentalmente, um homem da fantasia, como o demonstram (nas edições antigas da Caminho que subsistem, porque as novas, da Porto Editora, são logicamente de evitar) «Objecto Quase» e «Memorial do Convento».
Mais novo mas já um mestre incontestável é David Soares, sendo disso provas «Os Ossos do Arco-Íris», «A Conspiração dos Antepassados», «Lisboa Triunfante», «O Evangelho do Enforcado» e «A Luz Miserável». Menos prolíficos (pelo menos em matéria de trabalhos publicados) mas também meritórios são Daniel Tércio com «Pedra de Lúcifer», Fernando Ribeiro (sim, o dos Moonspell) com «Senhora Vingança», Pedro Medina Ribeiro com «A Noite e o Sobressalto», Renato Correia com «O Fim Chega numa Manhã de Nevoeiro» e Telmo Marçal com «As Atribulações de Jacques Bonhomme». Mais habituados a outros tipos de narrativas, Mário de Carvalho e Miguel Real gozaram a sua «licença estética» com, respectivamente, «A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho» e «O Último Europeu». Para os mais jovens há a série «Aventuras Misteriosas» de Sérgio Franclim, constituída por quatro volumes: «O Segredo Templário», «O Anão de Vasco da Gama», «Três Fantasmas, Duas Revoluções» e «A Espada Mágica». E não se deve esquecer os clássicos (uns mais «veteranos» do que outros), entre os quais «Lisboa no Ano Três Mil» de Cândido de Figueiredo, «Os Autos das Barcas» de Gil Vicente, «O Físico Prodigioso» de Jorge de Sena… e «Os Lusíadas» de Luís de Camões, obra maior não só de toda a literatura portuguesa mas também o expoente máximo do domínio da fantasia naquela.
E que não se pense que aqui há só homens. Estas mulheres merecem máxima atenção: Ana Cristina Luz com «Contos a Oeste»; Beatriz Pacheco Pereira com «O Amor Absurdo e Outras Histórias Improváveis», «Bianca e o Dragão» e «O Amanhã Perfeito»; Isabel Cristina Pires com «Universal, Limitada»; Madalena Santos com «O Décimo Terceiro Poder», «A Coroa de Sangue», «As Tribos do Sul» e «Os Doze Reinos»; Sónia Louro com «A Vida Secreta de D. Sebastião». Nas antologias, colectâneas, colectivas de contos as representações femininas são, felizmente, cada vez mais relevantes, como se pode verificar em «A Sombra Sobre Lisboa», «A República Nunca Existiu!», «Brinca Comigo! E Outras Estórias Fantásticas com Brinquedos», «Contos de Vampiros», «Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa», «FantasPorto», «Lisboa no Ano 2000», «Mensageiros das Estrelas» e «Por Mundos Divergentes». São muitas sugestões de simples leitura… enquanto não chegam a um ecrã, pequeno ou grande.