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É Impossível Deixar-Vos estas recomendações sumárias sem incluir duas das principais colecções de Ficção Científica que actualmente só se conseguem encontrar na Feira do Livro ou em algum alfarrabista: a Argonauta e a Livros de Bolso FC da Europa-América.
Para quem não tenha atravessado os anos 80, é quase impossível imaginar o domínio destas colecções. Não havia praticamente livraria que não dedicasse uma secção extensa a expor uma grande parte ou inclusive – no caso da Europa-América – a totalidade dos números publicados. Eis um grande ensinamento para as práticas modernas: ainda que hoje existam colecções – a 1001 Mundos e a Bang!, para destacar as principais –, as livrarias não se dedicam a reunir os exemplares segundo uma lógica numérica e num espaço independente, preferindo seguir as suas próprias regras de catalogação; o leitor recém-chegado à colecção sente-se naturalmente desamparado (será o livro acabado de comprar o número mais recente?) e terá de recorrer a outros recursos, como pesquisar na internet ou contactar a editora, para entender que obras constam do catálogo e mesmo do planeamento futuro. Contudo, encontrar alguns números mais antigos irá revelar-se uma tarefa frustrada, obrigando-o a comprar online – de que nem todos os leitores gostam – ou esperar por uma Feira do Livro, para completar a colecção. O facto de os títulos anteriores estarem disponíveis no momento, ou serem facilmente encontrados pela pesquisa na outra livraria mais próxima, ajudava bastante os novos leitores, acabados de chegar por via de uma novelização de um filme em cartaz, por seguirem uma recomendação pessoal, por conhecerem o autor ou por mero acaso.
O leitor ocasional era assim imediatamente fidelizado; o mercado expandia-se. Além disso, existia o factor educação: a colecção era um veículo para ir divulgando autores e obras inovadores, pois havia uma confiança por parte do editor que um segmento importante dos seguidores iriam confiar na aposta e comprar o livro – nem que fosse para ter a colecção completa. O fenómeno era fiável, e se acabou por perder ânimo foi principalmente pela falta de confiança dos editores no que eles próprios haviam ajudado a criar. Sucediam-se as más traduções e a falta de revisão. Adicionalmente começou a abusar-se do fenómeno de divisão do livro. Os leitores estavam habituados a, duas ou três vezes por ano, comprarem histórias às fatias, nas quais uma obra extensa no original era dividida em duas ou três partes na edição portuguesa para tornar a compra individual mais barata. Era uma explicação lógica, e quem vivia da mesada agradecia. Implicava que se conheceriam menos romances e autores naquele ano, pois um dos números previstos seria uma segunda ou uma terceira parte, mas enquanto as metades eram gordinhas em número de páginas havia um pacto entre editor e leitor. Esse pacto começou a quebrar-se quando as metades se tornaram esquálidas e se começou a perceber que o editor pretendia obter o maior lucro possível de cada título comprado.
Era o sinal de que o modelo de livro de bolso se tinha esgotado. E se os leitores ocasionais já tinham desaparecido há muito, esta mudança de atitude alienou os fiéis. A cisão tornou-se irreconciliável.
Ainda assim, muitas obras, boas obras, se publicaram nos tempos áureos. Irei destacar duas, uma de cada colecção.
O Tempo, O Espaço e o Cérebro é a tradução idiota do título The Big Time, um dos melhores livros de Fritz Leiber e dos poucos a encontrar caminho para o nosso idioma, com edição da Livros do Brasil. Nos tempos da Guerra da Mudança, é-nos dito, duas facções encontram-se num conflito permanente e milenar entre si: os Aranhas e os Serpentes. Não se sabe como ou porque começou nem ninguém sabe quando ou se acabará. Não se conhece sequer a forma e figura destes seres. A guerra é tudo, menos convencional, pois trava-se na própria natureza do Tempo. Cada facção dispõe da capacidade de viajar pelas eras e alterar o rumo da história. São as próprias batalhas da humanidade, as que existiram e todas as que poderiam ter existido, as que acabam por representar, no fim, a essência desta guerra. E porque a História pode ser alterada por um qualquer agente destas facções, pendendo a favor de uma ou de outra, assim a Humanidade segue na esteira. Inimigos mortais que lutariam em lados opostos numa realidade são aliados na próxima; soldados rasos tornam-se comandantes e logo regressam ao posto inicial; contendas podem tornar-se em batalhas decisivas ou em meros distúrbios. Quando a mudança na História acontece repercute-se pelas eras de forma progressiva, como uma ventania: daí o nome dos Ventos (e Guerra) de Mudança.
Isto torna-se num desgaste intenso para os soldados Aranhas e Serpentes – soldados humanos, recrutados ao longo das eras passadas e futuras da nossa História – , contra o qual se construiram zonas atemporais, isoladas do efeito pernicioso das alterações históricas. Zonas de descanso em que o conflito não é permitido e pelas quais recrutas e soldados experientes passam antes de serem enviados numa nova missão para outra era. É numa destas zonas que a história decorre.
E trata-se de uma história simples. Uma história contada com economia de tempo e espaço narrativo. Muito se escreveu já sobre a natureza teatral do romance, sobre as entradas e saidas coreografadas e os desenvolvimentos dramáticos de cada personagem, que fazem mais sentido numa peça que numa narrativa clássica. O livro é breve e veloz, e é preciso estar atento. O cenário de eterna e confusa guerra alimentaria, possivelmente, uma série de dez grossos volumes por um autor moderno versado em História. Leiber, contudo, utiliza este conceito apenas como cenário – nunca se entra num conflito efectivo, nunca se descreve uma batalha ou uma mudança no tempo a acontecer, os quais são apenas mencionados e explicados no decurso da acção – e centra o enredo numa situação urgente que implica a sobrevivência de um punhado de soldados e agentes temporais e da própria zona de repouso.
A edição conta com quase vinte anos de idade (é de 1992). Como podem perceber pelo exemplo do título, não representa uma maestria da arte de traduzir. Felizmente podem também encontrá-la disponível, gratuitamente e na língua original, neste grande repositório do bom e do mau que é a internet.
Chegou-me há pouco o primeiro lote de livros provenientes da gráfica. Devo confessar que estava com um pouco de receio a nível da capa, pois neste modelo de impressões não se consegue tirar provas de cor antecipadamente, e apenas com a sucessiva, cara e demorada impressão de exemplares ostentando diversas tentativas se conseguiria confirmar a melhor versão.
Mas felizmente as notícias são excelentes.
Estou mesmo muito satisfeito com o resultado.
Talvez a capa pudesse ser um pouco mais iluminada, as letras um pouco mais fortes ou numa outra família, a contracapa com menos texto, e a impressão em Print-on-Demand com um tudo-nada de tons mais vivos… Mas também sei que é o meu crítico interior a funcionar. Quem viu, adorou. E, sim, o miudo dentro de mim que iria deparar-se com isto numa livraria sem ter sido avisado também começou a pular…
Na verdade, fiquei tão contente que mandei imprimir mais um lote, convencido de que se vai vender no Fórum Fantástico que nem pãezinhos quentes…
Assim que o evento terminar, será tempo para começar a enviar aos autores os exemplares prometidos. Como devem calcular, a prioridade aqui está em chamar a atenção do público.
Nesse sentido, perguntarão, que esforços estarão a ser feitos, ou o que se planeia fazer?
Bem, muito dependerá do que aconteça no Fórum e na reacção face ao livro. Sei que haverá uma bancada para venda organizada pela Bulhosa, mas aguardo o contacto da responsável para combinar a colocação do livro.
Isto leva-me a fazer uma consideração sobre o próprio Fórum e a colocação do evento.
A minha postura perante o mesmo é dupla:
- estou bastante agradecido aos organizadores por aceitarem que lançasse o livro no Fórum sem contrapartidas financeiras nem de outra natureza, uma vez que não sou uma casa editora nem tenho a agilidade promocional que as participantes este ano (Bertrand, Saida de Emergência, Livros de Areia) terão;
- mas também estou relativamente apreensivo pela hora e dia em que o lançamento decorrerá, pois de todos os dias do evento, não é de longe o mais apelativo; apenas sábado nos daria a maior exposição, e inclusive sexta-feira permitiria que os curiosos começassem a chegar. O primeiro dia de quaisquer encontros, em particular a meio da semana, nunca é de modo algum o mais frequentado.
Isto não é uma crítica, mas um facto, e como facto há que adequar as nossas expectativas. No entanto, participarei numa mesa redonda no sábado de manhã juntamente com Bruce Holland Rogers, João Ventura e Rogério Ribeiro, moderada pelo Luís Rodrigues, sobre ficção curta, e espero conseguir colocar um «plug» para o nosso livro.
Afinal o que interessa mesmo é que esteja disponível e visível na livraria, e as pessoas se apercebam da sua existência.
Nem que seja preciso efectuar novo lançamento, extra-FF, algures até ao Natal.
Também tenho previsto:
- colocação de exemplares em alguns pontos de venda previlegiados, com os quais já iniciei conversações;
- a eventual publicação sob uma chancela editorial, que se mostrou interessada e que espero que fique mais ainda perante a obra solidamente feita;
- difusão da obra e do lançamento pelos meios de comunicação, mediante os contactos que possuo e outros que pretendo descobrir…
Neste último aspecto, se autores e conhecidos tiverem ideias, sugestões, contactos ou algo nesta senda, agradecia as vossas indicações.
E quanto ao Brasil?, perguntarão – e bem. Contribuiu com metade dos contos e agora a divulgação e publicação é apenas portuguesa?
Obviamente que não, mas por uma questão física, logística e de oportunidade, é a que comecei a dar prioridade.
O que não significa que não tenha ideias para concretizar. Mas aqui vou precisar da vossa ajuda. Vou precisar de um contacto principal da vossa parte. Alguém que me saiba aconselhar na disseminação publicitária, que sirva de elo de ligação com esse mercado, e também alguém que, a par dos meus esforços aqui, esteja disposto a colocar livros nos melhores pontos de venda por sua iniciativa e investimento autónomos. Contactem-me pelo email.
Artigo de Diana Marques – oradora no evento Soapbox Science Lisbon 2022, que irá decorrer a 15 de outubro, das 15 às 18 horas (GMT+1), no FICA Oeiras!
A Soapbox Science – é uma plataforma global de divulgação que promove as mulheres cientistas e a ciê…