Mais um ano, mais um Festival Internacional de Cinema do Porto que decorreu na Cidade Invicta, e desta vez, finalmente e felizmente, sem a interferência da distópica, mas verdadeira, pandemia que nos três anos anteriores também causou perturbações no maior acontecimento cultural do Norte de Portugal e da segunda maior urbe do país. Na verdade, na sua 43ª edição o FantasPorto voltou a realizar-se num período temporal muito semelhante ao que tem sido a norma de quase todas as anteriores edições, mais concretamente, de 24 de Fevereiro a 5 de Março.
No que respeita ao palmarés, ou seja, aos prémios atribuídos neste ano de 2023, eles foram os seguintes, por decisão do júri internacional do festival: Grande Prémio para Melhor Filme – «Megalomaniac», Karim Ouelhaj; Prémio Especial do Júri – «Demigod – The Legend Begins», Chris Huang Wen-Chang; Melhor Realização – Karim Ouelhaj, «Megalomaniac»; Melhor Actor – Tom Hughes, «Shepherd»; Melhor Actriz – Eline Schumacher, «Megalomaniac»; Melhor Argumento – Satoshi Miki, «Convenience Story»; Melhor Fotografia – Russel Owen, «Shepherd»; Melhor Curta-Metragem – «Incubus», Tito Fernandes; Menção Especial do Júri – «Stone Turtle», Woo Ming Jin. Foram ainda atribuídos prémios no âmbito da 33ª Semana dos Realizadores, distinguindo cineastas como Martijn de Jong, Milcho Manchevski, Hans Herbots, Peter Fazakas e Kristof Deak. De mencionar ainda os galardões específicos para filmes nacionais, com o Prémio Melhor Filme Português a ser atribuído a «Incubus» de Tito Fernandes, Melhor Filme de Escola de Cinema para «Quando a Terra Sangra» de João Morgado, e uma menção especial para «The Space in Between» de Joana Dantas.
Este ano o FantasPorto voltou a associar-se, para efeitos de divulgação, com o portal de informação Fábrica do Terror, que em 2022 apresentara no cinema Batalha o seu livro «Sangue Novo». Dessa cobertura pode destacar-se uma entrevista a Tito Fernandes, em que o realizador de «Incubus» falou deste filme em particular e do que tem sido a sua carreira em geral. Um excerto: «O meu projecto anterior, que era um filme de acção, aventura, ficção científica, história coming of age, com uma rapariga a descobrir o seu papel no mundo, a sua sexualidade, essas coisas todas, com robôs e tudo isso, foi uma prova de conceito, não foi apenas uma curta-metragem. E foi para dizer que gostava de fazer essa longa-metragem. Mas o “Incubus” é uma curta-metragem. E nunca mais quero tocar naquilo. Podemos pegar e fazer derivativos, o monstro não tem de ser exclusivo daquela história e daquele problema, a metáfora do trauma. Mas eu mostrei as coisas, eram assuntos que me perturbaram: a paralisia do sono, que é uma condição de que muitas pessoas sofrem, e a criatura demoníaca que faz parte das crenças pagãs e que vem muito da ignorância. Quando cresces num país que é super religioso sentes sempre alguma culpa católica a tua vida toda. São coisas com que eu sempre me debati. Acabei por misturar tudo isso e, quanto mais pesquisa fiz, mais consegui encontrar ligações entre os incubus e a paralisia do sono. Usei isso como mecanismos metafóricos para uma personagem que está em descontrolo absoluto. Adorei esse processo, é catártico; mesmo pessoas que trabalharam no filme e que já foram vítimas, sentiram isso.»