The Beckford Journal, revista da Beckford Society, inclui na sua mais recente edição (Volume 17, 2011), da qual recebi ontem um exemplar, uma recensão ao meu livro «Espíritos das Luzes», escrita por Sir Malcolm Jack, chairman daquela sociedade desde a sua fundação (1994). Transcrevo a seguir alguns excertos, por mim traduzidos:
«O livro “Espíritos das Luzes” de Octávio dos Santos insere-se na longa tradição da ficcionalização e mitificação portuguesa de William Beckford. (…) Octávio dos Santos surge-nos como um polímato, que traduziu Tennyson e tem contribuído largamente para o debate intelectual em Portugal enquanto jornalista, ensaísta e comentador. Num livro em que ficção e facto são misturados para produzir uma “fantasia”, o autor recorreu a(o conceito de) universos paralelos que podem colidir mesmo que separados temporariamente. A sua técnica para fazer com que tais colisões aconteçam é a da colagem de uma série de diálogos entre as principais figuras públicas da época logo após o grande terramoto de Lisboa de 1755. (…) Dos Santos destaca e dá uma atenção especial, no centro deste vórtice social e intelectual, ao relacionamento entre Bocage e o abastado visitante inglês William Beckford. (…) O problema mundano, histórico, que Dos Santos evita é (saber) se Beckford realmente conheceu Bocage. (…) Dos Santos não se desconcertou perante esta dificuldade trivial sobre factos, porque no seu mundo de universos paralelos tal detalhe não é, em si próprio, conclusivo. Assim, ele faz com que aquelas duas figuras ligeiramente devassas “colidam” como os melhores dos amigos íntimos, e que rolam através das ruas da cidade na carruagem de Beckford para irem ver Pombal no Palácio dos Carvalhos. (…) Existem no livro cenas muito mais ousadas, e o relacionamento de Beckford e de Bocage desenrola-se num cenário heterodoxo e mesmo sexualmente perverso. Apesar de estas reconstruções não serem baseadas em qualquer prova documental, elas oferecem uma perspectiva deveras arguta do que poderia ter sido o próprio mundo de fantasia de Beckford. A figura sinistra de Pina Manique nunca sai de cena, mas existem muitos outros personagens contemporâneos que fazem a sua aparição. (…) Bravio, fantasista, divertido: penso que para desfrutar deste livro deve-se acompanhar voluntariamente Dos Santos numa jornada até um mundo multi-dimensional e imaginativo, em que observações interessantes e argutas se relacionam, mesmo que tenuemente, com o mundo muito mais banal da realidade histórica.»