Isaac Asimov foi, neste mês de Janeiro de 2019, objecto de pelo menos duas referências no (designemo-lo assim) «espaço comunicacional português». E ambas, infelizmente, ficaram, estão, marcadas pelo erro e até por uma certa bizarria. O pioneiro e influente escritor de ficção científica decerto merecia melhor.
Logo a 2 de Janeiro, no sítio ZAP Aeiou, foi publicada uma notícia com o título «Em 1983, Isaac Asimov previu o mundo de 2019 (e acertou algumas coisas)». O tema é uma entrevista dada pelo escritor em 1983 ao jornal canadiano Toronto Star, e em que ele se permitiu fazer alguns exercícios de futurologia, algumas previsões aos níveis social e tecnológico, várias das quais vieram a revelar-se acertadas. Porém, e logo no primeiro parágrafo, o autor de «Eu, Robot» é apresentado como «russo». Pelo que deixei o seguinte comentário: «Isaac Asimov era norte-americano. Nasceu, sim, na Rússia, mas emigrou com familiares para os EUA quando tinha três anos.» Que, porém, não foi suficiente para o texto ser corrigido. Aliás, uma resposta ao meu comentário demonstra bem a ignorância, e até idiotice, que muitos afecta quanto a este assunto, e não só sobre Asimov: «Como é obvio, ele era russo!! Se mais tarde, obteve nacionalidade norte-americana, isso não elimina a sua nacionalidade original!»
A notícia no ZAP Aeiou estava, e está, «escrita» em submissão ao alegado «acordo ortográfico de 1990». E é precisamente esta ilegal e inútil perversão da língua portuguesa que também caracteriza a segunda referência a Isaac Asimov feita neste primeiro mês do novo ano no nosso país: uma tradução do primeiro livro do escritor norte-americano, «Fundação». Desta apenas se pode aproveitar o prefácio, escrito, em Português Normal e Correcto, por Jaime Nogueira Pinto, que, aliás, também participou na apresentação da obra – feita na FNAC Chiado a 17 de Janeiro – juntamente com João Seixas e o fundador-director da Saída de Emergência, editora que cada vez mais, e aparentemente sem se aperceber da ironia, colabora na consolidação de uma distopia não muito diferente das que muitas das obras que publica e divulga costumam antecipar e denunciar. Volto pois aqui e agora a dar a sugestão que já dei em anteriores ocasiões e situações semelhantes: é melhor, preferível, adquirir e ler uma versão em Inglês.