
Em meados de Agosto, surgiu na
Wired uma discussão muito interessante em dois artigos antagónicos sobre uma das principais tendências da ficção científica contemporânea: a
distopia. A discussão começou
com o artigo de Michael Solana, que aponta:
Obviously science fiction is not the cause of the current mess we’re in. But for their capacity to change the way people think and feel about technology, the stories we tell ourselves can save us—if we can just escape the cool veneer of our dystopian house of horrors. Dois dias mais tarde,
Devon Maloney contrapôs:
Dystopian fiction mimics what it actually feels like to be in the world, so if it ends up scaring people, well, that’s because the world is scary. A verdade, a haver
uma verdade, andará decerto a meio caminho de ambas as teses; e se é certo que a distopia sempre fez parte da ficção científica (sendo mesmo um dos seus géneros mais conhecidos - e apreciados - fora das suas fronteiras tradicionais), nem por isso deixa de ser verdade que falta à ficção científica moderna o optimismo e a esperança das histórias de outros tempos.
Star Trek, que Solana refere de passagem, é em si todo um programa: nos
remakes modernos, até a célebre frase de abertura
to boldly go where no man has gone before deu lugar ao enfadonho
Into Darkness.
No portal da
Tor,
Chris McCrudden expõe doze razões para ler (e adorar) a série Discworld de Terry Pratchett. São doze boas razões (a Granny Weatherwax será talvez a melhor personagem da fantasia contemporânea), ainda que me veja obrigado a discordar do ponto 3:
The Colour of Magic até pode ser o mais genérico de todos os livros de
Discworld, mas é também o ponto de partida de toda a série; como tal, qualquer leitor que queira realmente conhecer o extraordinário universo ficcional que Pratchett desenvolveu ao longo das últimas três décadas deverá começar aqui, na aventura original de Rincewind e Twoflower, e deixar-se levar. É verdade que praticamente* cada livro de
Discworld pode servir de porta de entrada para a série, mas há algo de muito gratificante na leitura sequencial, acompanhando a maturação da prosa e do estilo de Pratchett, e desvendando algumas piadas que só fazem sentido se o leitor já estiver familiarizado com alguns elementos de livros anteriores, por mais laterais que possam ser.
* Há excepções. Sugerir The Light Fantastic como primeiro livro a ler é disparatado, já que este é uma sequela directa de The Colour of Magic. Da mesma forma, Lords and Ladies surge na sequência directa de Witches Abroad, e não será talvez a melhor leitura para entrar em Discworld.