Uma Sensação de Desalento Há Mais de 40 Anos, ou, Então, Como Agora:
Infelizmente, o acanhado meio editorial do nosso país não permite grandes esperanças de profissionalização e os escritores, ou nascem em berço de ouro e podem dedicar-se inteiramente à sua vocação ou não têm essa sorte e são obrigados a um labor quotidiano após o qual, ou não têm tempo ou qualquer vontade, qualquer réstea de inspiração, se perdeu nessas horas de trabalho-sobrevivência. Daí, resulta necessariamente uma produção incerta - em qualidade, não em quantidade, entenda-se.
Da introdução do organizador Lima Rodrigues ao conto «Destruição» de Hélia (Maria Helena Sotto Baptista Brito de Sousa), na antologia Terrestres e Estranhos (1968).
Contra-argumento apenas neste ponto: a incerteza da produção implica a inexistência de prazos, e logo de público, e por conseguinte de uma vivência diária, obcecada, com o discurso literário. É tão difícil, nestas circunstâncias, atingir a qualidade como a quantidade. Mas eis um debate interessante para futuras ocasiões.
(PS - o editor termina a referida introdução com o seguinte apontamento, o qual não deixa de ser desconfortável no contexto em que se insere: «É de suspense e terror o conto "Destruição" que dela apresentamos; e curto, como Hélia gosta. Não é de modo algum o seu melhor, mas raramente um coordenador de trabalhos deste género consegue o melhor de cada autor e nós não somos, infelizmente, excepção.»)
ACTUALIZAÇÃO 16-05-2012: O referido conto pode ser encontrado aqui.